sexta-feira, fevereiro 24, 2023

a questão da nacionalidade na Ucrânia (ucranianas CLXVII)

Putin foi criticado, e provavelmente com razão (provavelmente, porque  não estudei o assunto), por defender que ucranianos e russos formam uma mesma nação, posição que talvez equivalesse -- creio que já aqui alvitrei -- a que se dissesse que com galegos e portugueses sucede o mesmo, o que não é verdade, apesar de a nossa matriz linguística estar radicada no velho reino da Galiza.

Demos pois de barato, seguindo o senso comum, que os ucranianos são mesmo ucranianos, e não russos; e assim sendo teremos de concluir que os habitantes do Donbass, na sua maioria, e também da Crimeia e noutros sítios, não são ucranianos, mas russos.

Por complicações da História, conhecidas, embora pouco referidas, estes russos fartaram-se de (ou nunca quiseram) ser ucranianos; e a partir de certa altura (ou desde a queda da URSS -- há casos, como o da Transnístria) resolveram rejeitar o estado que integravam, passando, neste caso específico, regressar à mãe pátria.

Esta vontade de autodeterminação ou é reconhecida e negociada entre as partes (Quebeque, Escócia, com os escolhos conhecidos); ou não o é: Catalunha, Curdistão, País Basco, etc.)

-- e historicamente ou o foi (Eslováquia) ou não o foi (geralmente nunca o é):  do Curdistão a Timor, passando por outras colónias portuguesas, e até por Portugal, sob os Filipes.

Ah e tal, mas o Direito Internacional...  O Direito Internacional não pode sobrelevar o direito à autodeterminação dos povos; além de que, salvo opinião mais douta, e como se vê, o ordenamento jurídico ocupa-se em manter o que está, ignorando as aspirações legítimas do que ainda não é -- ou nunca será...

Se a União Europeia se marimba -- quando não sabota -- para as aspirações e lutas de autodeterminação da Escócia ou da Catalunha, do que é que se estaria à espera quanto a uma províncias da Europa Oriental?

O Direito é esplêndido, mas é para os fracos cumprirem e aí os sediciosos são chamados de terroristas para baixo; quando têm força para levar a sua avante e triunfam, os terroristas passam a heróis, muitas vezes póstumos. Ora os separatistas do Donbass que combatem o estado artificial ucraniano desde 2014, para o seu povo são heróis; é isto que verdadeiramente importa.

2 comentários:

Manuel M Pinto disse...

"Hoje todos ficaram a saber que os nazis/asov na Ucrânia, tal como os anjos, têm asas; todo o dia em todas as televisões, rádios e jornais a lavagem foi intensiva. mas toda esta histeria em nada modifica a realidade."
cid simoes à(s) 21:37
http://aspalavrassaoarmas.blogspot.com/2023/02/lavagem-ao-bestunto.html?m=1

R. disse...

a ironia queirosiana ou o sarcasmo camiliano são sempre o melhor remédio...
Obrigado