“...melhor seria arrancar um braço”... canção de Janita Salomé que veio à cabeça ao relermos O Amor Infinito que Te Tenho (2011), de Paulo Monteiro (Vila Nova de Gaia, 1967). Com dez curtas narrativas (um índice daria jeito...), é poesia posta em quadradinhos, sem surpresa, pois o autor é também poeta, embora bissexto.
Histórias muito centradas nas suas circunstâncias pessoais, nem por isso deixam de interessar em várias latitudes – ou não fosse este um livro com várias traduções, e não fosse também o ser humano igual por toda a parte. Amor filial, amor paternal, amor conjugal, amor impossível, amor altruísta, amor egotista, amor que tem à espreita o seu próprio fim, pois que tudo desesperantemente acaba; BD ora solar ora de trevas, quanto mais negra mais carregadas as vinhetas, e mais limpas quanto mais jubilosa.
No fim, Monteiro incluiu excertos do diário da feitura do livro, motivo suplementar de interesse em que podemos acompanhar os itinerários de criação – os sucessos: «3h30 de trabalho. Hoje saiu-me tudo bem! E se eu desenhasse sempre assim? 3H30 e duas vinhetas!» (4.1.2009); os fracassos: «Parti a caneta com toda a força contra o estirador e saí para a rua desvairado e furioso comigo mesmo.» (22.10.2008); e os impasses: «É só um livro com meia dúzia de histórias. O importante é a vida. Vou ouvir a Amália. Os fados alegres, claro.» (16.2.2009).
O Amor Infinito que Te Tenho e Outras Histórias
texto e desenhos: Paulo Monteiro
2.ª edição, Polvo, Lisboa, 2012
(Novembro, 2019)