quarta-feira, setembro 13, 2023

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4 comentários:

Manuel M Pinto disse...

Nascimento de AQUILINO RIBEIRO:
13 de Setembro de 1885

Luís de Oliveira Guimarães, "AQUILINO RIBEIRO - Através do seu Ex-Líbris", (1955)

«Quem folhear os livros de Aquilino, encontra em regra, no verso de uma das primeiras páginas, a marca do autor. Essa marca é representada por uma águia, de asas abertas, encimada pela palavra 'Aquilino'. Sabendo nós que águia e Aquilino pertencem à mesma família, não nos causará estranheza que o romancista da "Via Sinuosa" e das "Terras do Demo" haja escolhido uma águia para marca do seu sinete. Estranheza poderá causar o facto de o romancista se chamar Aquilino -- nome tão raro como os corvos brancos. Mas, melhor ou pior, tudo tem neste mundo a sua explicação e por consequência, o nome de Aquilino não podia deixar de ter a sua.O escritor nasceu em 13 de Setembro de 1885. Nessa época, e se digo nessa época porque o calendário sob este aspecto não é imutável, o dia 13 de Setembro era consagrado a Santo Aquilino. A mãe do escritor, senhora muito religiosa, quis que o filho tivesse o nome do Santo do dia em que ele nasceu, e assim foi. Esta circunstância não veio a ter -- porque ocultá-lo? -- grande influência, sob o ponto de vista litúrgico, na vida espiritual do escritor. Se não temesse ser indiscreto, eu contaria mesmo que uma dama gentilíssima mandou, um dia, a Aquilino Ribeiro um registo de Santo Aquilino acompanhado de algumas profundas palavras de catequese. Aquilino sorriu e limitou-se a comentar:
-- Se existe já um Santo Aquilino, para que é preciso outro?
(...)
Não é, porém, aquela águia de asas abertas, que constitui propriamente o ex-líbris de Aquilino Ribeiro. Aquela águia não é senão a marca do sinete com que Aquilino chancela os exemplares das suas obras: o seu ex-líbris é diferente. Representa um cavaleiro a galope, seguido fielmente, por um cão, e tendo esta frase por legenda: «Alcança quem não cansa». Desenhou-o Leal da Câmara!
A simples citação deste nome evoca em todos nós um grande artista de múltiplas aptidões; mas evoca em mim -- e em Aquilino também -- um amigo inolvidável. Leal da Câmara!»
(continua)

Manuel M Pinto disse...

(continuação)...
"Examinando o ex-líbris de Aquilino, facilmente se colherá a filosofia que dele transparece. Não se torna, com efeito, difícil adivinhar que aquele cavaleiro, aquele cão e aquela legenda significam, na sua expressão alegórica, que, neste mundo, quem se cansar depressa nunca ou quase nunca alcança. É a velha história do cavaleiro e do dorminhoco. Certo caminhante, indo de jornada, encontrou uma fonte, sentou-se junto dela e adormeceu profundamente. A dada altura, foi despertado pelo tropear dum cavalo e viu um cavaleiro, esbelto e fogoso, parar junto da fonte, apear-se, beber água, dar de beber ao animal e preparar-se, rapidamente, para retomar a sua marcha:
-- Aonde ides com tanta pressa? -- perguntou-lhe o dorminhoco, bocejando.
E o cavaleiro respondeu, logo partindo a galope:
-- Aonde tu nunca irás, se continuares aí, dormindo!
Sim! Na vida em regra, só os que não cansam, alcançam. Ao olhar o ex-líbris de Aquilino Ribeiro, ao observar aquele cavaleiro, e o cão e a legenda que o acompanham, vejo eu (e, por certo, todos vêem) não uma mera fantasia gráfica, embora conceituosa, mas uma síntese simbólica da infatigável existência, física e espiritual, sempre fiel a si mesma, do próprio Aquilino. Já, há quarenta anos, no prefácio do "Jardim das Tormentas", Carlos Malheiro Dias descrevia Aquilino fustigando o corcel com a sua rédea de bronze e caminhando, veloz, de feltro ao vento, sem um desfalecimento, sem um abandono, na ânsia de chegar ao Ideal, porventura inatingível, que ele próprio criara. Há quem diga que o Ideal e a Ilusão se assemelham às folhas das árvores que vão caindo, uma a uma, quando a nossa vida se aproxima do Inverno. Sem dúvida, -- excepto para certos espíritos privilegiados. Para esses, existe sempre Primavera.
(...)
Uma tarde, encontrava-se Carlos Malheiro Dias trabalhando no seu gabinete de director da "Ilustração Portuguesa" quando lhe anunciaram a visita de Aquilino Ribeiro, que ele não conhecia pessoalmente ainda. Mandou-o imediatamente entrar, e preparou-se para receber, senão um revolucionário tremendo, de façanhuda "lavallière" preta, capaz de incendiar o mundo com a ponta dum cigarro, pelo menos um boémio insubmisso envolto numa ampla capa aventureira. Qual não foi, porém, a sua desvanecedora surpresa ao deparar-se-lhe um rapaz risonho, correctíssimo, olhos castanhos, duma grande doçura idealista vestindo um fato claro e ostentando o mais pacífico e o mais comunicativo dos sorrisos. Conversaram largamente. Acerca de política? Um pouco. Mas, sobretudo, acerca da literatura. Meia hora depois de Aquilino ter saído, entrou Rocha Martins.
-- Sabe quem aqui esteve há pouco? -- perguntou-lhe Malheiro Dias.
-- Não.
-- O Aquilino Ribeiro.
-- E que lhe pareceu o rapaz?
-- Pareceu-me que tem boa pinta e, se fizer uma revolução, há-de ser nas letras!»

R. disse...

E diz o meu caro que não tem que fazer um blogue dedicado ao maior prosador do século XX...

Aqui já iam dois posts, magnificamente ilustrados pelos ex-libris, as figuras do Carlos Malheiro Dias, do Rocha Martins, do Luiz d'Oliveira Guimarães -- que já ninguém sabe quem foi --, para não falar do próprio Aquilino...

Manuel M Pinto disse...

Nascimento de AQUILINO RIBEIRO:
13 de Setembro de 1885

Entrevista transmitida no Rádio Clube Português, na rubrica "Perfil de um Artista", a 16 de Julho de 1957. Realização de Igrejas Caeiro.

(I) Entrevista a Aquilino Ribeiro (parte 1/4)

https://youtu.be/3LqcwfnnNf8


(II) Entrevista a Aquilino Ribeiro (parte 2/4)

https://youtu.be/zMx5b3_Ou08


(III) Entrevista a Aquilino Ribeiro (parte 3/4)

https://youtu.be/mFp0L_L_5FE


(IV) Entrevista a Aquilino Ribeiro (parte 4/4)

https://youtu.be/8_HYJFcLry0