«Singularidades de uma Rapariga Loura», de Eça de Queirós, Contos (póstumo, 1902)
Um conto de desenlace sufocante, muito triste na sua irrisão, perfeito no estilo, terrível no modo monocular com que Eça retransmitia a realidade. Uma obra-prima publicada aos 29 anos, num "Brinde do Diário de Notícias", quando o autor escrevia O Crime do Padre Amaro.
O incipit: «Começou por me dizer que o seu caso era simples -- e que se chamava Macário...»
1 comentário:
«Dejejuaste tu já?
Declarei-lhe que tomara o mata-bicho com meu pai, antes de sair de casa.
-- Pois então, põe-te a caminho. Por volta do meio-dia podes estar de regresso, tendo a fortuna de encontrar a pé a senhora D. Estefânia. Apresenta-lhe as minhas homenagens, e não sejas parco, mas também não sejas pródigo, a agradecer-lhe. Olha que as palavras têm quilate como os metais; quanto menos abundantes mais finas. A fidalga de Santa Maria das Águias, embora muito dela se ocupem os maldizentes, parece-me criatura amável e de bom moral. Não é defeito ter boa presença e alegrar os olhos. Prenda de Deus chamou Santo Agostinho à formosura; assim penso e, ao contrário de muitos grandes doutores, mais vejo no rosto de belo parecer o lume cheiroso da graça que um chamariz do inferno. Sê cauto, mas não tenhas medo da mulher deliciosa, que, se consigo traz o mal, consigo traz o remédio. Já Homero, a todos os que celebrou de gentis, louvou de virtuosos!»
Aquilino Ribeiro, "A Via Sinuosa" (1918)
Enviar um comentário