Por duas razões principais, creio.
A primeira tem que ver com as relações hierárquicas e de poder. Vamos considerar a possibilidade mais benigna: a de um impulso irreprimível. Passado o momento de euforia, o mínimo que se exigiria seria um forte acto público de contrição, ou até uma autopenalização. Isso sim, seria de homem. Um(a) "chefe" tem que se impor a inibição de tomar certas liberdades, caso contrário não passa de um dejecto. Foi para criaturas destas que se inventou o autoclismo.
A segunda, igualmente importante, mas ainda mais grave. A prevalência de um machismo alvar nos países latinos, cuja expressão mais dramática se traduz no número de mulheres assassinadas às mãos dos maridos/companheiros (sem falar nos traumas que incidem sobre as crianças), torna compreensível que um acto destes, nestas circunstâncias, seja intolerável numa sociedade decente e qualquer abuso fortemente sancionado.
No entanto, tal não autoriza o linchamento público, que foi o que ocorreu, mesmo com o presidente da federação espanhola pondo-se a jeito. E também não autoriza a utilização da jogadora como arma de arremesso pelo outro lado da barricada.
Em resumo: um caso lamentável, em que a principal vítima foi Hermoso, irònicamente não por causa do beijo que não terá pedido, mas pelo desprezo que o activismo woke mostra pelo indivíduo. Ou seja, estão-se nas tintas para a atleta, desde que útil para emblema de uma causa. Isto é puro totalitarismo, tão deletério e tanto para abater como o machismo larvar que ainda por aí grassa.
2 comentários:
Viva Ricardo!
Confesso que já tinha saudades de um texto seu, de comentário social ou político, no qual me revisse. Não sei como tal foi possível, com tantas "ucranianas" de (me) espantar.
Mas, viva a amizade!
Um abraço!
Viva, meu caro!
Fico satisfeito por tal ter acontecido.
Quanto á Ucrânia e á guerra que se trava, peço sempre nas minhas orações para que veja a luz, naquele país perdido.
Nem mais -- outro para si!
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