António Alçada Baptista, Uma Vida Melhor (1984)
Uma evocação pura da infância, ou idealização dela, também, que, apesar de tratar-se de um conto para crianças, apresenta-se cheio de ironia, e, por vezes, de malícia, até -- a fazer lembrar a narração do Não Matem a Cotovia, de Harper Lee. Talvez a literatura infantil devesse ser sempre assim, para todos lermos independentemente da idade, inteligente e sem falsos moralismos.
O incipit: «O senhor doutor Luís era uma pessoa muito importante, cheio de rugas e de tosse.»
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«De caminho para a Residência, meu mestre disse-me:
-- O Tiago foi adiante aparelhar a besta. A manhã já vai alta, não te demores, que o sol anda envenenado e a poeira e as moscas são os ferozes salteadores do meio-dia. Só a poeira seria de sobra para danar um santo, mas pior ainda é o ferrão das moscas. E ora vê lá tu, Libório, tudo foi maravilhosamente ordenado na natureza, e os teólogos ainda não descobriram o sentido divino que preside à existência de tão importunos insectos. Referem os sábios que são terríveis propagadores de moléstias. Acredito, mas Deus lá deve ter a sua razão.
E a quem ela sobeja, acima de Deus e dos homens, é à minha pobre égua, que, em elas se lhe colando na região da serventia, torna-se mais endemoninhada que o cavalo de Absalão.»
Aquilino Ribeiro, "A Via Sinuosa" (1918)
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