«ABSTÉMIO, n. Indivíduo que se abstém de ingerir bebidas fortes: por vezes totalmente; outras vezes, toleravelmente totalmente.»
Dicionário do Diabo (1906)
conservador-libertário, uns dias liberal, outros reaccionário. um blogue preguiçoso desde 25 de Março de 2005
Segue-se a norma adoptada em Angola e Moçambique, que é a da ortografia decente.
3 comentários:
Dicionários de Constancio e Moraes
CAMILLO CASTELLO BRANCO
O vinho do Porto
PROCESSO D'UMA BESTIALIDADE INGLEZA
EXPOSIÇÃO A
THOMAZ RIBEIRO
«Para corroborar o Forrester e açular as iras contra o vinho do Porto, o outro pamphletista, Whittaker, invoca a opinião unanime dos medicos inglezes que reputam o vinho procedente de Portugal uma peste para o estomago e para o figado; por quanto o summo da uva é quasi uma idea abstracta na moxinifada de aguardente, baga, melaço e jeropiga. Elle não escreve sem desculpavel horror a palavra jeropiga.
Porquê? Vaes agora entrar no segredo da bestialidade ingleza, meu amigo.
Foi assim.
James Forrester, tão respeitador dos vinhos portuguezes como da nossa orthographia, tinha escripto «Jeropiga» com J. Parece que d'esta bagatella não devia surdir grande equivoco na percepção do pensamento; porém, succede que a palavra com G ou com J dá duas significações de coisas e serventias, e entradas e sahidas muito diversas. Whittaker, para saber radicalmente o que era Jeropiga, abriu o Diccionario portuguez de Constancio, e encontrou: jeropiga, Ajuda, clyster, bebida medicinal.
Tremulo de indignação e livido de nôjo, brada o inglez: «Esta ultima expressão (bebida medicinal) é o mesmo que mézinha; quanto ás duas primeiras (ajuda, clyster) são a mesma coisa, tem [32]o mesmo sentido, e dispenso-me de as traduzir. Que bellas coisas a gente bebe!»
Ó Thomaz Ribeiro, quem não sentiria vontade de mandar o inglez beber outras?
Mas o peor da passagem foi que a droga do clyster diluida no vinho do Porto fez abalo intestinal no mercado de Londres. Raro seria o consummidor de vinhos portuguezes que não levasse as mãos convulsas á região hypogastrica, com ptyalismo e vomitos. O artigo foi logo trasladado a francez, em Bruxellas, na Revue Britannique ou choix d'articles traduits des meilleurs écrits périodiques de la Grande-Bretagne (1849). Em Paris foi commentada desabridamente, com chalaças, a porca e pelintra fraude lusitana em um artigo da Revue Œnologique. Portugal, á conta do execravel jota de Sir James Forrester, foi considerado um paiz de immunda [33]selvageria que, ministrando clysteres pela bocca, tornava communs de duas entradas as suas mézinhas. Triste!
A honra e a limpeza de Portugal seriam desaffrontadas, se Forrester, Whittaker e os seus traductores ignaros procurassem Geropiga, com G, no Constancio ou no Moraes, jeropiga (esclarece o segundo), liquor feito de mosto de vinho, sobrecarregado de aguardente, que se usa no Douro para tempero de vinhos. E accrescenta: jeropiga, differe.»
Não havia nada sobre o que o Camilo não escrevesse...
"Geropiga com “J” – O Douro é uma Lição!"
https://licaodouro.wordpress.com/2019/10/23/geropiga-com-j/
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"Assim Mesmo: Jeropiga ou geropiga?"
http://letratura.blogspot.com/2007/01/jeropiga-ou-geropiga.html?m=1
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