««Aquele veludo de musgo às camadas de cor carregada mostrava-se agora mais espaçado em débeis tentáculos acastanhados como filetes de caracóis. Quando se topava uma abertura na parede, as exclamações irrompiam: Upah! Uih! Deito os bofes pela boca! Valha-me minha Santa lá no Céu. Abrenúncio, Virgem Maria! Até parece promessa ao São Semedo. Vamos, mais um pouco. É chegar ao patamar, às alturas.» Ruben A., A Torre da Barbela (1964)
«Começavam então a chegar à tasca os guardas encanecidos no mester de receber enterros, graves nos seus uniformes fatídicos, os coveiros angulosos e vesgos lançando de si um fétido deletério; e cada um, dando boas noites à tia Lauriana, ia sentar-se à banca, no seu lugar, chupando pontas de cigarro e pedindo decilitros.» Fialho de Almeida, A Ruiva (1878)
«A cauda ergueu-se num ápice, formando volta que nem cabo de guarda-chuva; a cabeça levantou-se também e nela luziram os olhitos até aí amortecidos. "Piloto" estugou o passo. O caminho estava cheio de tentações, de paragens obrigatórias, estabelecidas por todos os cães que passaram ali desde que Manteigas existia, desde há muitos séculos.» Ferreira de Castro, A Lã e a Neve (1947)
1 comentário:
«O meu último livro, "Camões, Camilo, Eça e Alguns mais", escrito nas boas intenções de servir a verdade e a moral literária, foi objecto de acerbas e tendenciosas críticas, destituídas algumas vezes de elegância e da mais elementar equanimidade. As páginas que se seguem acodem em desforço da minha tese, se tese foi o haver-me proposto reconduzir Luís de Camões das falsas púrpuras de que o ajoujaram à sua deprimida humanidade. Alçaram-se contra mim guelfos e gibelinos porque vim desmanchar o paspalhão de entranhas de filaça e punhos de falsa renda de Malines, que do seu estaleiro de figurantes de capa e espada António de Campos Júnior lançou um dia a público, e retomou mais tarde, beatamente, o Dr. José Maria Rodrigues, douto e cândido fantasista.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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