«Janeiro de 1918 / Se tivesse de recomeçar a vida, recomeçava-a com os mesmos erros e paixões. Não me arrependo, nunca me arrependi. Perdia outras tantas horas diante do que é eterno, embebido ainda neste sonho puído. Não me habituo; não posso ver uma árvore sem espanto, e acabo desconhecendo a vida e titubeando como comecei a vida.» Raul Brandão, Memórias I (1919) § «Estava no Funchal havia quinze dias. Levara um encargo fácil. Entrevistar Norton de Matos, que vinha pela primeira vez à metrópole depois de ter exercido o cargo de Alto Comissário de Angola. O antigo ministro da União Sagrada era, nesse tempo, uma figura discutidíssima.» Artur Portela, «Como se perde uma "reportagem"», Uma Hora de Jornalismo (1928) § «Regressado do Brasil pela quinta vez, aqui trago de novo o meu testemunho de observador imparcial mas, tanto quanto sei e posso, compreensivo, perante o incansável ritmo de progresso que a esse grande país deu a sua posição hegemónica na América do Sul.» João de Barros, «Brasil de hoje», Diário de Lisboa, 21-VI-1946, Adeus ao Brasil (póst.) § «Eu bem na sinto! Eu bem na sinto!, apesar das fuligens do céu mal-humorado e da ventania que me apupa, através das frinchas das janelas. Uma pulsação vigora as alamedas, nas ascendências inexauríveis da seiva, rebentando em folhagens de contextura fina, por forma que já não é ficção o caso do homem que ouvia crescer erva nos campos, visto que eu há quinze dias ouço, no recanto onde vivo, sob uma umbela vermelha de paisagista, o burburinho da natureza que se revigora e emplumesce, numa dessas orgias de cor que faziam rir o olho azul de Rousseau e punham emoções na palidez fatigada de Huet, o paisagista da ilha verde de Seguin.» Fialho de Almeida, «Pelos campos», O País das Uvas (1893) § «As notas que compõem esta navegação de cabotagem (ai quão breve a navegação dos curtos anos de vida!), à proporção que me vinham à memória, começaram a ser postas no papel a partir de Janeiro de 1986. Zélia e eu nos encontrávamos num quarto de hotel em Nova Iorque, ambos com pneumonia -- os dois, parece incrível --, febre alta, ameaça de hospital.» Jorge Amado, Navegação de Cabotagem (1990)
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Há 5 horas
1 comentário:
PARIS/MCMXIV
SÁBADO,
5 DE SETEMBRO
«Ao público menos grado, desde o porteiro ao manga-de-alpaca, ainda lhe não foi explicado porque estalou a guerra. Afirmam-lhe que a França foi agredida em plena paz, que é a invasão dos bárbaros o que se está dando, que os 'boches' matam velhos e mulheres, cortaram as mãos a não sei quantas criancinhas, fuzilaram um garotito que apontou para eles a espingardinha de pau, arrasam as igrejas, esfolam padre e bedel, mais nada. Elucidação honrada, franca, não lhe proporcionam, talvez porque não saibam. E ele -- que foi sempre pacífico, não estava ao facto da campanha de rancor encetada pela 'Action Française' e seguida pelos jornais de alta especulação, não compreenderia que uma minoria audaciosa acabe por impor a vontade à nação descuidosa -- acredita piamente que tudo o que lhe dizem é quanto lhe podiam dizer. Isso, tom e letra das gazetas acerca da guerra demonstram à saciedade que em França ou Alemanha o povo é a mesma massa panúrgica que segue e salta consoante vê marchar e saltar.»
Aquilino Ribeiro, "É A GUERRA-Diário", (Paris, 1914). Publicado em 1934.
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