«Com seu sorriso sardónico e o olhar enviesado, não hesitou em responder-me: / -- Eu cá só lá vi pedras, carros, automóveis, cavalgaduras e gente!» Avelino de Almeida, «Como o sol bailou ao meio-dia em Fátima», O Século, 15-IV-1917 § «Sinto-me perdido num cortejo de sombras. Stelio, Foscarina, Francesca de Rimini, as virgens, a Gioconda, aglomeram-se, à minha volta, em multidão. Sinto em mim, de mãos postas, todas as imagens do poeta. Esta hora silenciosa é, para mim, a cidade morta de Gabriel... / Abre-se uma porta.» António Ferro, «O"Século" ouve Gabriel D'Annunzio», O Século, 7-XII-1920 § «Levanto-me, envergo pela primeira vez o meu uniforme de soldado português e em menos de meia hora fico pronto para a primeira viagem ao front. Toma-se à pressa uma pequena refeição matutina. Depois, é a abalada rápida, sob a chuva miúda e fria que não deixa de cair, para o campo de batalha do Somme -- esse cemitério imenso onde foram sepultadas pela artilharia britânica vilas e aldeias, das quais não existe nada hoje, absolutamente nada.» Adelino Mendes, «A cidade d'Albert», A Capital, 29-III-1917
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1 comentário:
PARIS/MCMXIV
SEXTA-FEIRA,
4 DE SETEMBRO
«À nossa ilharga, dois rapazes imberbes e um homem de idade falavam também da guerra como nós, como toda a gente. Dizia o tal senhor, pessoa distinta a julgar pela roseta que lhe floria a lapela:
-- Sabe-se lá! Sim, talvez haja entre os generalíssimos dos exércitos em guerra uma supermaçonaria segundo a qual está assente não se fazer mal uns aos outros, sejam quais forem as vicissitudes da campanha. Não me repugna acreditar. Com o bastão são investidos na cabala. Certas corporações não têm o seu hermetismo e não tomam compromissos de país para país? A verdade é que os aeroplanos não recebem ordem, pelo que me conta o Louis, de bombardearem os locais em que supõem, se não têm a certeza que está aboletado o estado-maior inimigo. Mas será intencional? Miserável é que assim suceda. Uma bomba a jeito na casa em que funciona o grande quartel-general ou até naquela em que
pernoita o kaiser e acabar-se-ia a guerra.»
Aquilino Ribeiro, "É A GUERRA-Diário", (Paris, 1914). Publicado em 1934.
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