«O seu único amigo era o chantre Valadares, que governava então o bispado, porque o senhor bispo D. Joaquim gemia, havia dois anos, o seu reumatismo, numa quinta do Alto Minho. O pároco tinha um grande respeito pelo chantre, homem seco, de grande nariz, muito curto de vista, admirador de Ovídio -- que falava fazendo sempre boquinhas, e com alusões mitológicas.» Eça de Queirós, O Crime do Padre Amaro (1875/80) § «De três bicas, manando de rosáceas num pano de gracioso corte, com o entablamento coroado por pirâmides e um frontão em que se vazava uma guarita de santinho, apenas uma escorria no tempo da seca. Se pelos meses de águas vivas todas três brotavam, na tristeza das horas sem luz, à borda do silêncio revessado pelo convento, seu gorgolão era grave como uma salmodia de monges.» Aquilino Ribeiro, A Via Sinuosa (1918) § «Quantas noites não pregara olho a traçar planos para os canteiros da ponta de baixo que pareciam avessos a receber frescura? Então, erguia-se da esteira para percorrer o arrozal, levando as estrelas por camaradas mais a endecha da água e o zangarreio das rãs.» Alves Redol, Gaibéus (1939) § «As leis dos césares, pelas quais se regiam os vencidos, misturaram-se com as singelas e rudes instituições visigóticas, e já um código único, escrito na língua latina, regulava os direitos e deveres comuns quando o arianismo, que os Godos tinham abraçado abraçando o Evangelho, se declarou vencido pelo catolicismo, a que pertencia a raça romana.» Alexandre Herculano, Eurico o Presbítero (1844)
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«Quantas vezes lhe não bateu mais açodado o coração à ideia dos medos, das coisas ruins que povoavam estes gólfãos de escuro que há por detrás duma parede ou à borda dum barranco! O Santo Anjo da Guarda na boca, a mão no cabo da faca lhe valiam naquelas horas em que o Negro mai'-la choldra tinhosa andam à solta a desassossegar as almas. Também, vinha a sazão e a gadanha vergava pelo ervaçal dentro. As suas fachas derrotavam o braço. Uma só era cabonde para dar alento às vacas que fossem a tirar uma pipa do Távora para riba.»
Aquilino Ribeiro, "Terras do Demo". Romance. (1919)
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