segunda-feira, setembro 16, 2024

tempo de romance - Ferreira de Castro

«A pega, infatigável, ora procurando na terra, ora alçando-se à copa eleita, continuava a construir o ninho. Era já uma grande mancha, um grosso volume de pauzitos, seguro entre os últimos ramos do pinheiro. / Estendido onde a sombra lhe parecera mais agradável, Manuel da Bouça seguia o trabalho da ave e recordava o tempo da infância, já distante, em que vasculhava veigas e montes à busca de ninhos, só pelo prazer de os descobrir e disso se vangloriar ante o rapazio do lugarejo.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«... Numa delas, lembro-me ainda, negrejava o orifício impecavelmente redondo, um pouco menor que o batoque duma pipa, cavado pelo peto-real. Anos a fio ali morou. Quando desapareceu, a toquinha tornou-se feudo privativo duma poupa que todas as Primaveras ali vinha criar. Depois, uma vez que os filhos saíam do ninho com seus pentes sevilhanos na cabeça, asa saraivada a espadanar o céu com meias rotações "au ralenti", era como se rendilhasse a paisagem uma exótica e fútil graça.»
Aquilino Ribeiro, "CINCO RÉIS DE GENTE". Romance. (1948)