quarta-feira, setembro 18, 2024

tempo de novela - Aquilino Ribeiro

«Bebia-se o briol por canadões de pau até que bonda. Um homem mesmo com os dias cheios tinha pena de morrer. / Não tenho cataratas nos olhos, ainda que me hajam rodado sobre o cadáver quase dois carros de anos, mas os dias de hoje não os conheço. Ponho-me a cismar e não os conheço.» Aquilino Ribeiro, O Malhadinhas (1922)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«O primeiro a ser julgado chamava-se Hanab e era um magrizela, alto, cabeça de pássaro, pendente como girassol no crepúsculo. Tinha a barba suja ensilvada, rótulas tão esbranquiçadas e cascudas, à força de roçarem pelo chão, que alvejavam como as dos bodes na negrura da carne. Cobria-se com uma samarra, salpicada de ilhéus de pêlo aqui e acolá como pequenos oásis no deserto, que devia ter sido de bicho, porém de todo indeterminável. Era caçador de laço, comendo do que pegava e das peles que vendia.»
Aquilino Ribeiro, "As Três Mulheres de Sansão". Novela. (1932)