«E o Manco teima e diz, com a ponta do cigarro requeimado ao canto da boca: / -- Jesus Cristo há-de voltar para nos dar a terra. / -- Voltar?! / -- Os pobres hão-de ser sempre pobres. / E o Fortunato: / -- Sempre. Sem pobres acabava-se o mundo. / -- O mundo é dos probes!» Raul Brandão, O Pobre de Pedir (póst., 1931) § «Eu então, enternecido, dizia à deleitosa senhora: / -- Ai D. Augusta, que anjo que é! / Ela ria; chamava-me enguiço! Eu sorria, sem me escandalizar. "Enguiço" era com efeito o nome que me davam na casa -- por eu ser magro, entrar sempre as portas com o pé direito, tremer de ratos, ter à cabeceira da cama uma litografia de Nossa Senhora das Dores que pertencera à mamã, e corcovar.» Eça de Queirós, O Mandarim (1880) § «Era por 1813, meado de Agosto, quando o pastor chorava encolhido, a um canto do curral, e pedia ao padre Santo António com muitas lágrimas que lhe deparasse a cabra perdida. / João da Lage, o amo, assomou à porta da corte, e bradou: / Perdeste alguma rês?» Camilo Castelo Branco, Maria Moisés (1876-77)
sexta-feira, setembro 06, 2024
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1 comentário:
«Providencialmente não esquecera Léa a primitiva arte do açafate de costura. E, pelos figurinos e pelo que viam exposto nas lojas dos mercadores, ambas concertaram maravilhas de leveza e de graça.
O tempo, porém, corre mais depressa que um ladrão que tem medo; breve deliram as sedas e marearam as rendas de Bruxelas no corpo esgalgado de Rirette. E, pouco a pouco, foi-se afastando do bulício, fora do qual se representa aos figurantes que não há atmosfera respirável. Ao cabo de semanas, ela própria se não reconhecia. E se não fora as drogas que, por vicioso arremedo, todas as manhãs se barrava na face, o espelho segredar-lhe-ia que morava na aldeia e era a menina do senhor "maire".»
Aquilino Ribeiro, "Filhas de Babilónia" ("Maga"). Novela (1920)
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