sábado, setembro 21, 2024

serviço público - Viriato Soromenho Marques, «Às portas do Inferno»

Texto demasiado importante nesta altura do campeonato, com a perigosíssima Úrsula em rédea livre, sem que os dirigentes dos maiores países da UE tenham estofo (político e intelectual) para afirmar a União Europeia como parte (preferencialmente da solução), mas como uma espécie de Hotentócia do imperialismo americano. (Os negritos são meus)

«O maior arsenal militar da Rússia, na região de Tver, a cerca de 500km da fronteira da Ucrânia, foi atacado na madrugada de dia 18. Kiev afirma terem sido drones a causa da destruição, mas a hipótese de mísseis de longo alcance e o local do seu lançamento continuam em aberto.

Recordemos a cronologia recente. Dia 13, em São Petersburgo, Putin fez uma declaração inequívoca dirigida aos EUA e à NATO. A permissão a Kiev de atacar alvos na Rússia com mísseis de cruzeiro britânicos Storm Shadow e Scalp franceses, com mísseis balísticos táticos norte-americanos Atacms, ou outros semelhantes, equivaleria a uma declaração de guerra. O uso destes mísseis implica o envolvimento de pessoal da NATO, em especial dos EUA, pois é ele que acede aos protocolos e dados de satélite que permitem não falhar o alvo.

Dia 14, a reunião em Washington entre o PM britânico e o presidente Biden foi inconclusiva quanto à autorização de uso daquelas armas por Kiev. Contudo, nesse mesmo dia, o almirante holandês Robert Bauer, chefe do Comité Militar da NATO e o chefe das FFAA checas manifestaram, despreocupadamente, o apoio a essa autorização de uso.

Dia 17 foi a vez do SG da NATO, Stoltenberg, ter afirmado ao jornal The Times, numa toada provocatória, que a declaração do presidente russo era um bluff: “Putin anunciou linhas vermelhas muitas vezes, mas nunca escalou.”

O ataque de dia 18 pode significar que a NATO autorizou o uso dessas armas, sem o comunicar publicamente. Esse silêncio não se destina a enganar a Rússia, mas a manter os cidadãos da NATO no véu de ignorância programada em que nos encontramos há quase 3 anos.

No campo de batalha, as coisas correm mal para as forças de Zelensky, tanto no Donbass como na região russa de Kursk, ainda parcialmente ocupada por tropas de Kiev. O que está na ordem do dia é a existência de um estado de guerra, ainda que não-declarado, entre a NATO e a Rússia. Há uma mudança abissal. O objetivo da guerra passa a ser o de infligir uma “derrota estratégica” à Rússia. O apoio militar defensivo à Ucrânia passou a ser claramente ofensivo. Colocámos as armas da NATO, manejadas e programadas pelos nossos especialistas, com a informação dos EUA, a mais detalhada do mundo, a destruir infraestruturas militares críticas da Rússia, esperando, como Stoltenberg faz crer, que a Rússia encolha os ombros…

Há muita gente brilhante temendo a possibilidade de a Humanidade ser destruída ou dominada pela IA (Inteligência Artificial). O que está a acontecer no Ocidente, com aventureiros a fingir de estadistas e militares incompetentes ao seu serviço, não vai nesse sentido.

O nosso maior perigo existencial é a EN (estupidez natural). Essa mistura tóxica de ignorância arrogante, de agendas preenchidas escondendo indigência intelectual e alergia ao pensamento crítico, de carreirismo tenaz imbuído no conformismo de rebanho… é isso que domina na esclerose das organizações, como sucede hoje na NATO e UE.

Com imperdoável ligeireza, os líderes do Ocidente substituíram as lições da Guerra Fria, por um temerário aventureirismo. Espetaram uma baioneta no coração da dissuasão nuclear: o imperativo de escutar, compreender e negociar com o adversário para que ele não se transforme no inimigo que abraçaremos na destruição mútua assegurada.

A NATO está ufana da sua enorme superioridade em população (980 contra 144 milhões) e material de guerra convencional sobre a Rússia. Recalcou, todavia, o facto de que a Rússia nunca cairá sozinha. Num cenário de derrota convencional, ela teria capacidade, apenas com uma fração dos seus 1710 mísseis nucleares operacionais, para aniquilar não só os Exércitos, mas também os alicerces da civilização na UE e EUA.

A maioria esmagadora dos cidadãos no Ocidente recusam o suicídio. Como é possível que os nossos Governos e Parlamentos deixem a questão da vida ou morte dos povos do Ocidente entregue a incendiários aprendizes de Dr. Strangelove, como Stoltenberg?  As portas do inferno já estão abertas. Vamos em frente?»

Viriato Soromenho Marques, no Diário de Notícias de hoje


Sem comentários: