A massa, vimo-la ontem em toda a sua fealdade e grosseria, enrolada em bandeiras nacionais e vestindo a camisola da selecção nacional, enquanto destruía o património do país (peças partidas, telas rasgadas, tudo vandalizado, com gáudio). Depois há os outros, piores, mais facínoras, que dizem condenar a selvajaria, mas com reserva mental. Não lhes fica bem o cheiro a suor do povo, com a aparente sofisticação exterior. No entanto, descendentes de imigrantes, tantos deles miseráveis, nunca se conformaram, pobres diabos, que um operário liderasse o país. Um homem, aliás, de enorme inteligência, cuja vida é uma contínua aprendizagem, posta ao serviço da comunidade.
Não é a massa, ignorante e manobrável, que é desprezível, mas tão só digna de pena. A verdadeira escumalha está por exemplo nos bairros privilegiados do Rio de Janeiro, habitando em prédios que mantêm o elevador para os serviçais. Uma canalha bem vestida, perfumada, aparentemente articulada com horror à pobreza da qual tem beneficiado ao longo das gerações; abortos morais esquecidos das suas raízes, 99,9% oriundos de pobres diabos que fugiram à fome e à miséria, de Portugal, da Galiza, de Itália, da Suíça, da Polónia, da Rússia, de todo o velho mundo. Estes, os verdadeiros miseráveis.
Ainda ontem, uma insignificância bolsonarista na televisão portuguesa se referia a Lula e à história de chamar "genocida" ao tosco do Bolsonaro, mais ou menos desta forma: "Ele nem sabe o significado da palavra genocida." É preciso ser-se muito poucochinho para se referir assim a um homem como o Lula aliás -- vale o que vale, mas para estas cabecinhas simbolicamente vale muito --, Doutor Honoris Causa pela vetusta Universidade de Coimbra.
À margem:
Não, o agora suspenso governador de Brasília não tem antepassados lituanos. O homem chama-se Ibaneis Barros Rocha Júnior, apelidos portuguesíssimos, o que me leva a pensar que certos minhotos ou beirões, atravessado o Equador e instalados nos trópicos, ficam avariados. Mas isto é lá nome de gente? Eu ainda percebo que tenham querido fugir ao estigma das padarias e das mercearias do Manuel ou do João, mas Ibaneis?...