Este constante apelo do Zelensky ao fecho do espaço aéreo, querendo arrastar tudo e todos com eles porque suas incelências não cumpriram os acordos de Minsk e andaram a abrir as pernas aos americanos. (Ainda há tapados que não perceberam que os americanos estão nisto até ao pescoço; devem ser os mesmo inocentes que acham que o Putin é comunista.) Apesar de tudo, continuo a nutrir simpatia pelo presidente da Ucrânia. É capaz, com a sua atitude, de ser o seguro de vida daquela nação.
Aquela parva da vice-presidente norte-americana vem com a conversa que a luta pela Ucrânia é pela liberdade, e coiso. Não deve ter sido comprada, é só atrasada mental.
Agora as armas químicas, que retórica bonita. O presidente polaco a adoptar o mesmo discurso do Zelensky e dos inocentes de cá. Já ouvi falar do precedente da Síria, o tal que quiseram atribuir aos russos, mas que só os compra quem não os conhece. A CIA enterrada até ao pescoço na guerra da Síria, os paramédicos da paz ou como raio se chamava aquilo que eles criaram, numa das muitas manobras antiAssad. Não se esqueçam da teoria política dos filhos-da-puta do nosso lado e dos filhos-da-puta do lado deles.
(Filhos-da-puta que por vezes transitam. Parece que o Maduro está quase a ser reabilitado. Ele pelo menos já disse que se vai reunir com a oposição, o que faz suspeitar de que os americanos já lhe mostraram o livro de cheques. Estou a aguardar para ver.)
Estou tão à vontade para falar sobre o Putin... Quando tiver tempo e paciência hei-de dizer o que penso dele, sem cair nas caricaturas psicanalíticas, ou fantasiar a propósito de demências, megalomanias ou supostos cancros. Não há paciência.
Comentadores: Filipe Pathé Duarte: quando isto começou ouvi-o numa estação de rádio qualquer referindo-se ao precedente da Geórgia. Mentira grosseira: foi a Geórgia que atacou a metade norte da província cujo nome não me recordo (Ossétia?), parte da Federação Russa. E qaundo a Geórgia ataca militarmente a Rússia, sabemos logo que está por detrás do feito militar;
Na Rádio Observador, na semana passada de manhã, Bruno Cardoso Reis (ouvi-o com estes dois) a alvitrar como mediadores entre a Rússia e a Ucrânia -- uma vez que a Turquia, embora país importante não tem peso suficiente -- a alvitrar, dizia, a possibilidade de uma mediação norte-americana ou da União Europeia. Repito: a alvitrar a possibilidade de uma mediação norte-americana ou da União Europeia...
Sexta-feira à tarde na TSF, Raquel Vaz Pinto, instada a pronunciar-se sobre a viabilidade da zona de exclusão aérea: muito atrapalhada, em vez de ser clara e precisa, falou nos "sacrifícios" que os europeus estarão ou não dispostos a aceitar, precisando que não se tratava de inconvenientes como a inflação ou a falta de géneros. E mais não disse, fugindo rapidamente para outro tema, sem mencionar a palavra guerra -- os tais "sacrifícios" a que estava a aludir. Não sei se pertence à corrente dos celerados que querem pôr a UE e a NATO (a NATO, valha-me Nossa Senhora) no papel do Chamberlain.
Quando a impreparação (para ser benévolo) é tal, só nos resta congratularmo-nos por, em cada dois comentadores destes que aparecem, surgir um terceiro que se pode ouvir com alguma confiança.
Gostava de saber o nome da pivot da sic-notícias deste domingo, depois das 15 horas. Perante um jornaleiro, perguntas muito cirúrgicas, muito serenas. Não é frequente.
Num dos países fronteiriços, uma mãe refugiada sorridente por ter os filhos consigo, apesar de o marido, militar, ter ficado no país. E com um ar genuinamente cândido e sereno diz o que muitos ucranianos devem dizer também: "eu nem percebo por que razão os russos nos estão a atacar." E ainda bem que não houve ninguém lá a dizer-lhe a verdade: "São coisas lá das altas esferas da política; tu e os teus não são mais do que carne para canhão."
10 comentários:
Caro amigo:
Tenho lido os seus brilhantes (sem qq ironia) comentários e reflexões sobre a 'intervenção militar especial' com que, sob o olhar estarrecido e horrorizado da Humanidade, esse tirano frio e mentiroso compulsivo que dá pelo nome de Putin, vai arrasando um país e tentando calar toda uma nação, fazendo simultaneamente tremer o Planeta com ameaças de armas nucleares, com a angélica justificação de estar apenas a desnazificar o país vizinho (nem o vi dar especial ênfase ao perigo da Nato/EUA).
Ora, já lá vão quase 3 semanas e ainda não li uma linha sua sobre o sofrimento dos ucranianos. Eu sei que a sua análise é apenas de natureza geo-política ou geo-estratégica, ou lá o que seja... Mas, que diabo, não lhe inspira um parágrafo que seja o sofrimento de todo um povo INOCENTE, ou as gravíssimas consequências económicas e não só para todo o mundo, que decorrem deste acto de loucura? Ou a coragem de tantos milhares que deixam o seu conforto num país distante e acorrem a defender a sua pátria, cientes de que podem não voltar?
Como já se apercebeu, faço parte desta imensa multidão de tapados (afinal a esmagadora maioria dos seres pensantes) que, ao invés de tentar justificar uma agressão, senão totalmente gratuita, pelo menos incomensuravelmente desproporcionada, teimam em centrar a sua atenção na 'realidade' nua e crua de uma guerra infame: milhões e milhões desalojados de sua casa, ao frio, à fome, velhos que mal se têm de pé, em fuga, de olhar perdido, tropeçando por entre destroços.
Lídia Jorge escrevia ontem no Público, a propósito do papel e valor universal da arte, seja no domínio da música, da pintura, ou da literatura: "Os autocratas com poder nuclear como Putin não precisam de ler nenhum livro, de qualquer nacionalidade, nem do presente nem do passado. Baseiam-se apenas numa única narrativa - O Livro do Apocalipse"
Espero que me desculpe a franqueza.
Aceite o meu abraço amigo.
PS:
Ontem, na Gulbenkian, deleitei-me com a audição de algumas obras de Tchaikovsky, Rachmaninov, Mussorgy, etc.
Caríssimo,
Em primeiro lugar agradeço a atenção. No entanto, não leu tudo (o que não lhe levo a mal), nem, se me permite, com a devida atenção o que terá lido, pois desde o início que falo do povo inocente, da carme para canhão em que o povo ucraniano foi transformado, responsabilizando a estratégia americana de cerco à Rússia (é um facto, e o que diz da NATO não é rigorosamente assim) e pelos péssimos dirigentes políticos daquele país (repito o que já escrevi: o Zelensky, presidente há três anos e com dois de pandemia, politicamente inexperiente até agora, será dos menos responsáveis pela situação a que se chegou); e em terceiro lugar, pela acção russa, que tenho caraterizado como guerra preventiva, e que do ponto de vista geopolítico e geoestratégico é plenamente justificada. Nós não vivemos no paraíso, mas no mundo real, em que há competição feroz por várias supremacias. (Se os EUA gastam dez vezes mais em armamento do que a Rússia, algum significado isso poderá ter, certo?)
De resto, a principal razão para o meu tom permanentemente indignado, é a má sorte de todos esses inocentes de que fala, e bem. Mas como dizia um dos nossos generais comentadores -- militares cuja objectividade e finura de análise da maioria tanto irrita alguns -- não se deve começar a ler um livro pelo segundo capítulo, mas antes pela capa, desde logo, correndo o risco de ficarmos em palpos de aranha -- ou ficarmos como aquela jovem mãe ucraniana, demasiado ocupada com a vida para se aperceber de que ao lado dela, por cima e por baixo, se desenrolaram os vários processos que a conduziram até aqui.
Se me fala dos ucranianos que voltaram para pegar em armas, sou o primeiro a aplaudir, pois não subscrevo nada o que disse o Putin (está escrito) a propósito de russos e ucranianos serem o mesmo povo; seria o mesmo que alguns castelhanos dizerem que portugueses (ou catalães ou bascos) são todos espanhóis (hispanos ou ibéricos, sim; espanhóis não).
Os que não têm qualquer relação coma Ucrânia e se vão alistar são meras vítimas da propaganda e da lavagem cerebral, isto na interpretação benigna.
E você, meu caro, nunca sente que o estão a enganar, por vezes grosseiramente, por esses telejornais? Nunca desconfia do que lhe dizem e dos números que lhes dão. É que a própria imprensa é manipulada, e por todos os lados.
Eu quando falo de tapados, não me refiro necessariamente à generalidade das pessoas que está a leste da geopolítica e das relações internacionais; falo dos outros, dos inimputáveis que vêm dizer disparates.
O que a Lídia Jorge veio escrever é literatice, a puxar ao belo efeito, desculpe que lho diga. E como sabe, não a admiro nada enquanto escritora.
Já agora, Fernando, peço-lhe que me responda, sem história ou geopolítica, mas apenas no quente dos acontecimentos, no agora mesmo: por que razão a Finlândia, que partilha uma longa fronteira coma Rússia, pôde ser neutral nos últimos oitenta anos, uma nação próspera, progressiva e até feliz, e a Ucrânia. não? Porque a Ucrânia é um tabuleiro onde as potências se disputam, um espécie de Afeganistão da Europa, sendo trágico que as elites políticas, altamente corruptas, Zelensky à parte, creio e espero, tenham permitido que o país e o povo estivessem nesta situação. Aliás, a tenacidade do Zelensky foi inspiradora para milhões de compatriotas e um dos maiores entraves à acção russa, do ponto de vista político, que é sempre o que comanda a guerra.
(continua)
Como o Fernando deve calcular, esta não será a última guerra a que assistiremos, infelizmente --; a não ser que seja mesmo a Última... E se eu concordo em denunciar e lamentar os efeitos da guerra, lamento mais e mais me enfureço com as razões dela. Mesmo sendo um realista, sabendo que a política internacional nunca é pautada por bons sentimentos, mas por relações de poder e/ou de sobrevivência. Foi esta última, por exemplo, que levou à criação das comunidades europeias, após as guerras fratricidas no continente. E é com esse mesmo realismo que lhe faço outra pergunta: acha que alguma vez seria possível o México (ou o Canadá) estar na esfera de influência da Rússia ou da China? Quanto tempo é que acha que aguentaria o governo mexicano?
E mande sempre meu caro; gosto de debater de boa-fé com gente de boa-fé. E de aprender, também. Como deve ter reparado, para além da etiqueta tenho um link sobre tudo o que escrevi a propósito, para que todos vejam, e que será também muito útil para mim próprio, se vier fazer o balanço deste confronto.
Ainda bem que conseguiu ouvi-los; tem havido cancelamentos de toda a espécie, o que só vem revelar a manda em que transformaram as opiniões públicas: um concerto de Tchaikovsky foi adiado em Inglaterra, tal como um seminário sobre Dostoievski numa universidade italiana. Ambos por que não seria oportuno, de acordo com os organizadores. Seria paara ri, se não fosse trágico.
A frase de L. Jorge é literatice. Concordo. Não é o meu amigo poeta? O que escreve, em verso é pura literatice? Talvez não. A expressão literária não será, muitas vezes, uma forma bonita e tendencialmente metafórica de dizer verdades?...
Quanto ao mais, a minha resposta central ao que me respondeu é: Pontos de vista!
Concordo que os media 'ocidentais' neste caso estejam um tanto condicionados pela 'paixão', ou pela emoção. Mas não são censurados e as pessoas que estão por detrás são livres e inteligentes. Muitos estão no terreno... Manipulação? Calma aí!
É verdade que o Ricardo tem feito referências ao povo ucraniano, como vítima sofredora, como 'carne para canhão'. Mas sempre na perspectiva (a meu ver errada) de que são uns ceguetas manipulados pelos americanos, uns pobres suicidas. Se assim fosse, lutavam tão bravamente? Na Ucrânia invadida vejo um país ávido de democracia, liberdade e progresso e não um conjunto de 40 milhões de estúpidas marionetas.
Quanto à geoestratégia, nesta questão e quanto a mim, é assunto ultrapassado. Agora, trata-se de ferocidade, ambição imperial e mau perder. Mas neste ponto estou muito menos preparado que o meu amigo...
Sempre a considerá-lo. Abraço!
Caríssimo.
Poeta não ouso considerar-me, deus me valha. Já arranhei uns poemetos, coisa diferente.
Pode ser bonito, mas é um florilégio vazio, na minha opinião. Ficamos a saber que a senhora está impressionada. Pronto.
Não sei a que se refere quanto aos meus pintos de vista, mas claro, são meus, unilaterais, embora procurem ser abrangentes, mas obviamente falíveis. Mas precisaríamos de ir ao concreto.
Sim, estão condicionados, por várias razões. No entanto, ficando-nos apenas pelas televisões há uma multiplicidade de pontos de vista, o que é óptimo, embora o pano de fundo, as parangonas noticiosas sejam acríticas e se deixem levar pela propaganda, que todos fazem, não sejamos ingénuos.
Livres e inteligentes? Uns mais que outros. Ainda hoje em dois telejornais tive duas sensações terríveis. O José Alberto Carvalho, impreparado e ignorante (mas de uma ignorância espessa) a entrevistar o pobre major-general Agostinho Costa, que bem tentava inculcar qualquer coisa naquela cabeça... Acabado este, vou à sic, e aqui vejo a Clara de Sousa com uma pergunta infantil dirigioda a um aldrabão que dá pelo no me de Milhazes. Há-os independentes e inteligentes, mas não podem ser muito, porque senão são postos na prateleira, como acopnteceu ao recém-falecido grande jornalista Carlos Santos Pereira com a guerra nos Balcãs, que era dos poucos que não vergava... Jornalistas independentes e inteligentes na mesma pessoa são uma raridade.
Meu caro, os ucranianos são tão ceguetas como nós ou qualquer outra nação. As pessoas estão ocupadas a viver as suas vidas o melhor que sabem e podem. O exemplo que dou no fim deste meu post é bem elucidativo. Não são ceguetas nem estúpidos: quando deram por eles, estavam metidos num molho de bróculos, numa guerra entra a Rússia e os Estados Unidos que tem como teatro o seu território, creio que já viu que assim é.
Claro que a partir da altura em que vêm o país invadido, pegam em armas, incluindo muitos ucranianos de origem russa, em defesa da Ucrânia. Mas isso é depois. Claro que não estão na situação dos nossos soldados que iam morrer para o Ultramar numa terra e por uma causa que não era a sua, mas também foram bem enganados -- mas isso é outra história...
Todos os países são ávidos disso tudo, mas não se podem esquecer da História e muito menos da Geografia. R ao contrário do que diz, seja Rússia ou Portugal, a geopolítica nunca é assunto ultrapassado, mas permanente. Uma das razões, por estranho que lhe possa parecer vindo de mim, que as nossas relações com os Estados Unidos devem ser privilegiadas, como com o resto das potências atlânticas. Nunca escapamos do onde estamos e donde viemos, nem nós nem os ucranianos, nem nenhuma nação ou estados, seja qual for a latitude.
É sempre um gosto trocar ideias consigo; e o que eu quero é que isto acabe depressa, embora haja quem pareça ter vontade de escalar.
Novo abraço
Sim, Ricardo e não, Fernando. Quando um dos lados vem de "coraçãozinho lacrimoso azul e amarelo" (roubei a frase, serve bem), na mão dizer-me que eu ou os meus filhos temos que ser soldados ou polícias...eu que sou mulher e mãe, acabei de saber exactamente de que lado não estar durante o tempos mais próximos.
Sara, sinceramente, não compreendi a parte dos coraçõezinhos. É esse o sentimento que lhe suscita a tragédia daquele povo? Foram eles os culpados? Não lhe merecem dó nem compaixão?
E que me diz daquela tontinha, certamente espiã americana, que se pôs à frente das câmaras no telejornal da TV estatal russa com um cartaz a desmascarar perante os concidadãos as mentiras do Kremlin? Muita sorte tem por a brincadeira não lhe dar mais que uns 15 anitos de prisão... Ai se fosse cá deste lado!...
Suponho que a pergunta seja para mim, caro Fernando. Digo muito bem, e que não é tontinha de todo. É filha de um ucraniano e de uma russa, nascida em Odessa, uma pessoa de coragem. Mas nada disso infirma o que eu digo, que, se bem se recorda é: os americanos/NATO são os primeiros responsáveis por esta guerra, seguidos dos líderes ucranianos -- o Zelensky já está calado com a Nato, mas a Nato ainda não está calada com a Ucrânia. Sobre as blandicias do Putin para com a jornalista multada é algo totalmente lateral nesta história, porém um bonito episódio.
Fernando, os "corações lacrimosos azuis e amarelos" não são as mães com os filhos que fogem da guerra. Por elas eu sinto empatia e uma grande tristeza.
Não sabe Fernando, mas eu e amigas minhas já fomos fugitivas e refugiadas de guerra. Ouvimos os zunidos das balas e dos aviões por cima das nossas cabeças. Vimos corpos baleados e esquartejados...já vimos. Temos histórias vividas. Vidas interrompidas. Pais, irmãos e amigos que tiveram que fazer a guerra e sabemos como voltaram ou não, dela.
A mim nunca mais me enganam com mãos cheias de corações caridosos e papões.
Chega-me de hipocrisia e de mentiras.
Tirem as armas a todos.
Levem à justiça os grupos nazis e outros que espalham o terror.
Reconheçam-lhe a importância de ser um estado neutral e não alinhado.
Comprem-lhes por um preço justo o trigo e o gás que têm por cima e por baixo dos seus campos.
Ajudem-nos a reconstruir as casas, os hospitais e as escolas.
E deixem que decidam em paz como se governam.
Ah! E os corações são todos da mesma cor.
Desculpe-me Fernando mas estou muito cansada de sentir tudo isto. Um abraço.
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