quinta-feira, março 17, 2022

e por falar em criminosos de guerra (ucranianas XLVIII)

 1. Antes de mais, a degradação da linguagem, que não é desta guerra, mas uma manifestação de uma doença social, potenciada pela hipercomunicação: as palavras já não são apenas polissémicas, mas adaptam-se e moldam-se a uma pretensa realidade que supostamente pretendem significar. Por exemplo, os antivacinas: em vez de se qualificarem temerários ou irresponsáveis, chama-se-lhes negacionistas. Para generalidade das pessoas, não passa de um epíteto; mas é mais que isso, pois, como é consabido, um negacionista é (era...) quem nega o Holocausto perpetrado pelos nazis.

Vivemos, pois, num mundo em que o diálogo se torna quase impossível, pela forma como se manipula a linguagem, por perversidade ou captação de atenção por razões nada nobres (notoriedade fácil, nos casos individuais; o vil metal quando se trata de empresas; a manipulação, quando passamos à política). O Orwell foi o primeiro o dos primeiros a chamar a atenção para essas entorses dolosas.

2. A propaganda e o abandalhamento do discurso tem sido uma constante nesta guerra, dos dois lados, mas principalmente da parte militarmente mais fraca, a Ucrânia, que conta com o serviço da generalidade dos mérdias ocidentais. Neste contexto, em abstracto, não suscita especial censura, pois quem não tem cão caça com gato.

3. Crimes de guerra praticam-se em todas as guerras -- a guerra, levada aos extremos, é a bestialidade sem freio. Não tenho nenhuma dúvida de que russos e ucranianos -- ocasionalmente, apesar de tudo -- os possam ter cometido. Tenho sérias dúvidas de que o comando no terreno, a hierarquia militar ou a direcção política apontem nesse sentido, em especial do lado dos russos, os mais poderosos entre os contendores. No entanto, shit happens...

4. Repetindo-me: quando se coloca armas pesadas junto a um alvo sensível (escolas, hospitais), para atrair a contrarresposta do inimigo (originando as parangonas na imprensa), sabendo-se que ela causará esse dano "colateral", quem é aqui o criminoso?

5. Por falar em criminosos de guerra, aquela anedota que é presidente dos Estados Unidos foi cúmplice da invasão do Iraque -- essa sim, uma guerra totalmente injustificada, um crime cometido aos olhos de todos, com base em mentiras. Quer isto dizer que há uma justificação para esta guerra? Sim, há, por muito que custe, mas fica para outro post

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