quinta-feira, março 31, 2022
da falta de interesse (ucranianas LVII)
Como é possível sentir uma migalha de interesse ou paciência por porcariazinhas quando se desenrola uma guerra à porta entre os Estados Unidos e a Rússia, cujo desfecho ainda ninguém sabe qual é?
Eu bem sei que a maralha já começou a fartar-se, já tem a sua dosezinha de emoção piedosa em excesso, já anda a precisar de novas emoções fortes, que o estalo do outro gajo ao não sei quantos apenas deu para desopilar em riso alarve.
Futebóis? Eu nem sequer quis ver o jogo com a Macedónia, o que teria feito com gosto noutras circunstâncias, mesmo já nem podendo ouvir ou ver pela frente Fernando Santos mais a Nossa Senhora...
E estas merdices à volta do governo e de Costa na Europa?; e o medrar do Santos Silva?... Mas há paciência para isto?
Como não sou um Herculano, não posso ir para Vale de Lobos; mas francamente só me apetece música e leitura, e seguir a progressão da guerra, esperando que os patifes dos americanos não levem a melhor.
Felizmente, a Rússia tem armas nucleares, senão, quantos iraques não seriam, com esta canalha, mais cães e papagaios...
sobre a guerra, os que oiço ou leio com atenção (ucranianas LVI)
Susceptível de actualização ou correcção, os comentadores que vale a pena ouvir -- mesmo alguns mais alinhados com a Nato, ou mais anti-russos -- porque informados -- e inteligentemente prudentes:
militares: Agostinho Costa, Arnaut Moreira, Carlos Branco, Mendes Dias, Raul Cunha.
académicos: Filipe Vasconcelos Romão, Miguel Monjardino, Sónia Sénica.
jornalistas: Ana de Freitas (pivô incomparável da SIC); José Manuel Rosendo (RTP).
quarta-feira, março 30, 2022
"a sombra do Z", ou Zorglub satisfeito, o Zorro, nem por isso e em defesa do Ziraldo (ucranianas LVI)
Eu, que sou um homem dos quadradinhos, tive de resignar-me ao triunfo de Zorglub, lamentar o Zorro. Mas, e se cancelam o grande Ziraldo (Alves Pinto)?
terça-feira, março 29, 2022
segunda-feira, março 28, 2022
os cartoonistas percebem melhor (ucranianas LV)
domingo, março 27, 2022
sábado, março 26, 2022
sexta-feira, março 25, 2022
quem está a ganhar e a perder nesta guerra entre a Rússia e os Estados Unidos (ucranianas LIV)
1. A ganhar
a) Ao fim de um mês de guerra, e alguns anos de preparação para ela, os Estados Unidos ganham em toda a linha. Enfraquecem a Rússia e reforçam o poderio económico e militar. Preparam-se para fornecer gás à Europa, e em especial rebentam com o famoso Nord Stream 2, como era seu objectivo. A NATO ganha um propósito estratégico, que havia terminado com a Guerra Fria, um maná para a indústria armamentista, não apenas americana. Se a Rússia colapsar, a sua vitória será total, podendo, a seguir, ir tratar da vida aos chineses.
b) Ganha uma identidade nacional a Ucrânia, ao alto preço que elas comportam. A identidade nacional portuguesa foi adquirida através da guerra, do antagonismo com o leonês, o castelhano, o "espanhol" (não há espanhóis); quando veio o francês, ela era já velha de séculos.
c) Reforça-se uma coesão, que será sempre precária, a da União Europeia, por maus motivos.
d) A Turquia, em toda a linha: diplomática e estratègicamente, de mãos livres no Curdistão, em relação aos quais, curdos, sírios, etc., não houve carinhas com as cores da pátria pintadas e lágrima fácil.
2. A perder
a) A Ucrânia, em parte dizimada, vamos ver até onde quando; o povo ucraniano, sacrificado pela geopolítica e por lideranças abaixo de cão.
b) A Rússia, não tanto para já com as célebres sanções, como pelo triunfo esmagador da propaganda anti-russa que veio a ser delineada desde que perceberam que o Putin não era o boneco que os Estados Unidos gostariam que fosse; mas também pelo evidente retrocesso (esperemos que transitório) da liberdade na Rússia, algo que os russos só conheceram, ainda que imperfeitamente, com o mesmo negregado Putin. Liberdade e prosperidade geral como nunca acontecera até então. No entanto, a não ser que haja um colapso ou um golpe de estado, a Rússia terá sempre uma semi-vitória: a neutralização da Ucrânia como base para os americanos. Outra possibilidade ainda, desde o início, é a partilha da Ucrânia. Já faltou mais. Basta não haver um debâcle russa. Por outro lado, o recuo da liberdade e o reforço do poder do líder, se não for invertido no pós-crise (e normalmente não o é), será uma derrota para a sociedade civil russa, que é o que mais interessa, e não tanto a reactivação do Mcdonald's. (Em tempo: o reforço da Nato, uma óbvia derrota, se não foi antecipado.)
c) Os países fronteiriços: muito nervosos os estados bálticos e a Polónia, compreensivelmente, embora desnorteados, tal como Zelensky a pretenderem arrastar o mundo para uma guerra (se alguém acha que a guerra ficará pela Europa, é um optimista doente).
d) Nós todos, cidadãos europeus e não só, manipulados como bonecos e intoxicados por propaganda insidiosa.
quinta-feira, março 24, 2022
há 48 anos que ouço o Sérgio Godinho
Fui vê-lo e ouvi-lo outra vez, e está esplêndido aos 76 anos (e meio) rodeado de músicos fresquíssimos, idem para os convidados. Apetece dizer que está cada vez melhor. Emocionei-me.
quarta-feira, março 23, 2022
ainda estou à espera (ucranianas LIII)
Depois daquela muito boa em que um porta-aviões sobrevoara a Formosa, ainda estou à espera de ouvir que um novo ataque russo a um centro comercial provocou um genocídio de seis feridos.
Costa pede a deputadas para não serem ingénuas, com uma observação que se fosse para levar a sério seria o cúmulo da ingenuidade.
Quando olho para Joe Biden, vejo um cangalheiro. Na verdade, ele vem à Europa tirar medidas.
"Leitor de BD"
ler os outros (ucranianas LII)
O post é longo, mas merece a pena: das lixeiras televisivas aos xaropes para a tosse que não devem existir nos laboratórios da NATO -- todo um sumo.
terça-feira, março 22, 2022
ao fim de todo este tempo, só se deixa enganar quem quer (ucranianas LI)
Ainda a degradação das palavras. Quem não respeita as palavras, não se dá ao respeito, nem sequer o merece. Até ontem, o número oficial de mortos era de pouco mais de 960 civis. Um morto numa guerra, já é um excesso. Mas quando ouvimos a onda de propaganda que nos trata como gado a usar a palavra genocídio (aquela expressão grave que se emprega para o Holocausto judeu; a perseguição dos nazis também aos ciganos, ou os massacres dos índios ou dos arménios); concluo por isso, que, passado quase um mês, só se deixa enganar quem quer. Ontem ouvi uma referência ao número de baixas civis no Iraque, ao fim do primeiro mês; salvo erro, foram para cima de dez mil. São certamente dados verificáveis. (Mas alguém ligava alguma coisa aos iraquianos?...)
O número de soldados russos mortos entretanto diminuiu. Provavelmente ressuscitaram, em terras tão cristãs.
A Renault e a Nokia vão continuar na Rússia. Querem-nos estúpidos, mas há limites.
Há humoristas que não perdem uma. Um qualquer comparou a situação da Ucrânia à daquela turista que em tempos idos foi violada, e um brilhante juiz saiu-se com uma desculpabilização dos violadores, pois estavam na coutada do macho ibérico, ou uma alarvidade parecida. A piadola era dirigida aos que responsabilizavam a Ucrânia -- ou melhor, os seus dirigentes, por esta guerra (nem é preciso mencionar os americanos, "a mão por detrás dos arbustos", como diria Sócrates"). Cada dia que passa, mais perto está o meu vaticínio
Têm montes de piada os nossos humoristas; o pior é quando a ignorância se confunde com a estupidez.
Anda para aí muita gente com medo do Putin. Por um lado, fazem bem. Mas eu tenho mesmo medo é do Biden ou de quem manobra este senil. A parada é altíssima, arriscada, temerária. E ainda nos vamos todos tramar por cause destes animais e dos idiotas úteis que lhes ampliam a propaganda e lhes facilitam o esquema.
quando me fazem rir com a guerra (ucranianas L)
Não é o sotaque à Speedy Gonzalez do infeliz Borrell;
ou o que se passará na cabeça impressionável duma juíza que libertou um facínora nazi para "combater os russos" na Ucrânia, onde estão muitos da mesma laia -- nomeadamente em Mariupol, onde tentaram sequestrar a população;
nem sequer um empregado de mesa dum restaurante que frequento, que já se ri ao ver as notícias da mortandade (quantos milhares de soldados russos mortos é que já são?...), e das pesadas derrotas infligidas pelas forças ucranianas, quando têm o país feito em cacos (sem que o comum dos cidadãos perceba porquê);
ou ainda, já esta noite, que o Pentágono (o Pentágono...) vai a judar a investigar os crimes de guerra dos russos na Ucrânia, com direito a declarações do director-geral, e anúncio de candidez bovina na televisão;
-- não, não foi isso que me fez rir nas últimas horas de cobertura idiota desta guerra -- valha-nos os generais, que um alucinado já qualificou de traidores (!);
o que me fez rir mesmo foi ouvir o m-general Agostinho Costa dizer a a uma jornalista e a uma senhora muito pia, que costuma andar para ali os comentários, que os russos não iriam desperdiçar um míssil de cruzeiro num centro comercial. Disse-o na altura, sem conseguir evitar o riso; há pouco ouvi outro m-general, Carlos Branco, referir-se aos lança-mísseis (se estou a designar correctamente) que ali estavam colocados, e no paiol em que aquilo tinha sido transformado, visível pela coloração do fogo depois da explosão;
mas o pior de tudo foi eu me ter rido com vontade após ouvir na rádio a locução emocional relatando a morte de um sobrevivente dos campos de extermínio nazis, com 92 anos, e a tradução do comunicado do ministério da defesa ucraniano. qualquer coisa como "sobreviveu a Hitler, mas não sobreviveu a Putin!"
Eu que sigo com interesse o que se passa, já levei ao limite a minha capacidade de indignação com a desinformação mais vil a que alguma vez assisti. E até a propósito da morte dum sobrevivente do Holocausto estes cabrões me fizeram rir...
segunda-feira, março 21, 2022
domingo, março 20, 2022
sábado, março 19, 2022
sexta-feira, março 18, 2022
tempo de canalhas: os casos de Daniil Medvedev e Gregory Gergiev (ucranianas XLIX)
Vou agora fingir acreditar nas patranhas que a propaganda pretende inculcar, que o Putin quer reconstituir a União Soviética ou o império czarista -- e esquecer-me de que o presidente russo é um nacionalista impregnado de mentalidade russa, sustentado (e sustentando) pela Igreja Ortodoxa, e aceitar que a expansão da NATO é apenas uma desculpa para o que se passa na Ucrânia. Finjo acreditar nisso tudo, sem precisar de me socorrer das hipóteses infantis da doença, física ou psiquiátrica, correndo o risco de ser insultado por este serafim saudade.
A decência obrigar-me-ia sempre a denunciar a perseguição que está a ser feita a grandes figuras russas da actualidade, pelo simples facto de serem russos, forçados a declarar-se contra o governo do seu país em estado de guerra. É o que acontece com Daniil Medvedev, o tenista actualmente número 1 do ranking mundial (ele e todos os outros tenistas russos e bielorrusos). A canalhice já nem por delito de opinião, mas delito de amizade, atingiu um dos grandes maestros da actualidade Valery Guerguiev, demitido da direcção da Orquestra de Munique e do Scala de Milão. É culpado de ser amigo de Putin e não ter respondido ao ultimato das duas instituições, que lhe pediam se demarcasse daquele. Foi despedido por ser digno, por não renegar a amizade nem ser troca-tintas. Claro que é Guerguiev que se agiganta diante dos burocratas e comissários políticos.
Das alturas da grande música e do desporto de alta competição, apenas uma nota rasteira: o Biden, um destroço físico, intelectual e moral que se entreteve a chamar assassino e rufia ao Putin, assume a posição de corrécio com a China.
É a guerra entre a Rússia e a Ucrânia, não é? Pois é, pois é...
P.S. A forma como Putin se referiu ontem aos opositores internos -- se é certo que ele tem de lidar com uma quinta-coluna -- foi abjecta, inaceitável e incivil (os mosquitos que nos entram acidentalmente na boca e se cospem). A última vez que vi uma criatura usar esta linguagem foi o patife do Kadafi, que acabou como se sabe.
(Lembrete: como aqui tenho escrito, a guerra da Ucrânia está para lá de Putin -- e a última coisa que alguém me verá fazer aqui é isentar os americanos -- os grandes responsáveis pelo que está a acontecer na Ucrânia, a par dos seus homens de Kiev. Os comentadores que têm opinado sobre esta guerra endossando acriticamente a versão NATO, ou são megafones da administração americana ou, a maioria, bois a olhar para palácio, não vêem um cu. Não tenho nem quero ter nada que ver com essa fauna.)
quinta-feira, março 17, 2022
e por falar em criminosos de guerra (ucranianas XLVIII)
1. Antes de mais, a degradação da linguagem, que não é desta guerra, mas uma manifestação de uma doença social, potenciada pela hipercomunicação: as palavras já não são apenas polissémicas, mas adaptam-se e moldam-se a uma pretensa realidade que supostamente pretendem significar. Por exemplo, os antivacinas: em vez de se qualificarem temerários ou irresponsáveis, chama-se-lhes negacionistas. Para generalidade das pessoas, não passa de um epíteto; mas é mais que isso, pois, como é consabido, um negacionista é (era...) quem nega o Holocausto perpetrado pelos nazis.
Vivemos, pois, num mundo em que o diálogo se torna quase impossível, pela forma como se manipula a linguagem, por perversidade ou captação de atenção por razões nada nobres (notoriedade fácil, nos casos individuais; o vil metal quando se trata de empresas; a manipulação, quando passamos à política). O Orwell foi o primeiro o dos primeiros a chamar a atenção para essas entorses dolosas.
2. A propaganda e o abandalhamento do discurso tem sido uma constante nesta guerra, dos dois lados, mas principalmente da parte militarmente mais fraca, a Ucrânia, que conta com o serviço da generalidade dos mérdias ocidentais. Neste contexto, em abstracto, não suscita especial censura, pois quem não tem cão caça com gato.
3. Crimes de guerra praticam-se em todas as guerras -- a guerra, levada aos extremos, é a bestialidade sem freio. Não tenho nenhuma dúvida de que russos e ucranianos -- ocasionalmente, apesar de tudo -- os possam ter cometido. Tenho sérias dúvidas de que o comando no terreno, a hierarquia militar ou a direcção política apontem nesse sentido, em especial do lado dos russos, os mais poderosos entre os contendores. No entanto, shit happens...
4. Repetindo-me: quando se coloca armas pesadas junto a um alvo sensível (escolas, hospitais), para atrair a contrarresposta do inimigo (originando as parangonas na imprensa), sabendo-se que ela causará esse dano "colateral", quem é aqui o criminoso?
5. Por falar em criminosos de guerra, aquela anedota que é presidente dos Estados Unidos foi cúmplice da invasão do Iraque -- essa sim, uma guerra totalmente injustificada, um crime cometido aos olhos de todos, com base em mentiras. Quer isto dizer que há uma justificação para esta guerra? Sim, há, por muito que custe, mas fica para outro post.
quarta-feira, março 16, 2022
caracteres móveis
«Alli, era outro o mundo -- a bella Moscow, branca como a neve, coroada de cupolas, cheia de amores; funccionarios sem emprego, officiaes licenciados, estudiosos inebriados de philosophia, e cortezãos que, enojados dos odores das damas perfumadas da côrte, aqui vinham procurar a frescura natural feminina.»
[sobre o abandono de Bakunin do exército e a ida para Moscovo; a capital, claro, era São Petersburgo]
Silva Mendes, Socialismo Libertário ou Anarquismo (1896)
o alto e o baixo (ucranianas XLVII)
O alto:
1) os bombeiros de Kiev e das outras cidades; os cidadãos de Odessa a ensacar a areia da praia, cantando determinados. O povo comum e não os nazis do Batalhão Azov que por lá andam (já ouvi uma fraude qualquer a relativizar os nazis; não devem saber o que é a vanguarda da classe ordinária);
2) a missão dos primeiros-ministros da Eslovénia, Polónia e República Checa. Quando isto acabar, ainda ninguém sabe como nem quando, será tido como um dos grandes momentos desta crise, pese embora a presença dos pouco frequentáveis polacos, heróis agora do Mundo Livre, como os rapazes do Azov.
O baixo:
1) o irrepetível Stoltenberg, secretário-geral da NATO e macaco-amestrado dos americanos. Amanhã, o ministro da defesa ucraniano vai participar numa reunião de homólogos da aliança. Uma provocação ou uma afirmação tonta para que os russos não se metam com a NATO? Como disse no princípio, se o Putin pensar em cruzar a fronteira Nato, eu venho aqui pedir para o internarem, se os colegas em Moscovo entretanto não o tenham já feito.
2) Estes gajos do Báltico foram entrados na NATO, e agora estamos nós a gramar com o seu pânico histórico dos russos. Não estão ainda cientes de que vamos todos para o galheiro se os russos os atacarem? Claro que já me tinha esquecido de que os iletrados daqui dizem que ele quer restaurar a União Soviética. Ou será o Império Russo? Ou ele é simplesmente doido varrido, como disse o pedreiro que veio cá hoje a casa, e todos temos mas é que nos juntar e ir lá pôr uma bomba?...
3) O Zelensky já só diz que quer entrar na UE. Bolas, o tipo está a fraquejar. Na NATO é que ele deve estar, com aquele maluco do Putin à solta. O Stoltenberg vai reclamá-lo, a Estónia a querer interditar os céus da Ucrânia.
terça-feira, março 15, 2022
a guerra da Ucrânia explicada por desenhos (ucranianas XLVI)
avizinha-se o sermão de Zelensky aos cowboys (ucranianas XLV)
Os Estados Unidos ameaçam a China com sanções em caso de compra do gás natural ou outros recursos à Rússia. Independentemente da reacção chinesa, ficamos mais uma vez a saber que os Estados Unidos não têm nada a ver com o que se está a passar, e que obviamente estão preocupados com o sofrimento do povo ucraniano.
O parlamento da Estónia aprovou uma possível activação de uma zona de exclusão aérea do espaço aéreo da Ucrânia por parte da NATO. O que significa que já não é só a Ucrânia. em desespero de causa, a poder ser o agente que dará início a um novo conflito mundial, mas a Estónia, por medo -- pertencer à NATO não lhe dá suficientes garantias, parece --, também já acha aceitável o envolvimento da aliança atlântica na guerra.
Não sei se será só medo tresloucado ou se isto faz parte de uma jogada de pressão política e psicológica sobre a Rússia. O que soube hoje, através do comentário do major-general Carlos Branco na tvi/cnn é que os russos não utilizaram ainda o seu armamento mais moderno -- os tanques (os que estão nas operações parece que são dos anos noventa) e o grosso da aviação. Deduz ele, e parece-me lógico, que se estarão a guardar para o que possa vir a seguir.
Entretanto Zelensky falará quarta-feira às câmaras. Com o capital político e o carisma que granjeou nas última semanas, sabe-se lá o que irá ele sacar daqueles cowboys...
segunda-feira, março 14, 2022
também estamos cercados, mas é por atrasados mentais (ucranianas XLIV)
Este constante apelo do Zelensky ao fecho do espaço aéreo, querendo arrastar tudo e todos com eles porque suas incelências não cumpriram os acordos de Minsk e andaram a abrir as pernas aos americanos. (Ainda há tapados que não perceberam que os americanos estão nisto até ao pescoço; devem ser os mesmo inocentes que acham que o Putin é comunista.) Apesar de tudo, continuo a nutrir simpatia pelo presidente da Ucrânia. É capaz, com a sua atitude, de ser o seguro de vida daquela nação.
Aquela parva da vice-presidente norte-americana vem com a conversa que a luta pela Ucrânia é pela liberdade, e coiso. Não deve ter sido comprada, é só atrasada mental.
Agora as armas químicas, que retórica bonita. O presidente polaco a adoptar o mesmo discurso do Zelensky e dos inocentes de cá. Já ouvi falar do precedente da Síria, o tal que quiseram atribuir aos russos, mas que só os compra quem não os conhece. A CIA enterrada até ao pescoço na guerra da Síria, os paramédicos da paz ou como raio se chamava aquilo que eles criaram, numa das muitas manobras antiAssad. Não se esqueçam da teoria política dos filhos-da-puta do nosso lado e dos filhos-da-puta do lado deles.
(Filhos-da-puta que por vezes transitam. Parece que o Maduro está quase a ser reabilitado. Ele pelo menos já disse que se vai reunir com a oposição, o que faz suspeitar de que os americanos já lhe mostraram o livro de cheques. Estou a aguardar para ver.)
Estou tão à vontade para falar sobre o Putin... Quando tiver tempo e paciência hei-de dizer o que penso dele, sem cair nas caricaturas psicanalíticas, ou fantasiar a propósito de demências, megalomanias ou supostos cancros. Não há paciência.
Comentadores: Filipe Pathé Duarte: quando isto começou ouvi-o numa estação de rádio qualquer referindo-se ao precedente da Geórgia. Mentira grosseira: foi a Geórgia que atacou a metade norte da província cujo nome não me recordo (Ossétia?), parte da Federação Russa. E qaundo a Geórgia ataca militarmente a Rússia, sabemos logo que está por detrás do feito militar;
Na Rádio Observador, na semana passada de manhã, Bruno Cardoso Reis (ouvi-o com estes dois) a alvitrar como mediadores entre a Rússia e a Ucrânia -- uma vez que a Turquia, embora país importante não tem peso suficiente -- a alvitrar, dizia, a possibilidade de uma mediação norte-americana ou da União Europeia. Repito: a alvitrar a possibilidade de uma mediação norte-americana ou da União Europeia...
Sexta-feira à tarde na TSF, Raquel Vaz Pinto, instada a pronunciar-se sobre a viabilidade da zona de exclusão aérea: muito atrapalhada, em vez de ser clara e precisa, falou nos "sacrifícios" que os europeus estarão ou não dispostos a aceitar, precisando que não se tratava de inconvenientes como a inflação ou a falta de géneros. E mais não disse, fugindo rapidamente para outro tema, sem mencionar a palavra guerra -- os tais "sacrifícios" a que estava a aludir. Não sei se pertence à corrente dos celerados que querem pôr a UE e a NATO (a NATO, valha-me Nossa Senhora) no papel do Chamberlain.
Quando a impreparação (para ser benévolo) é tal, só nos resta congratularmo-nos por, em cada dois comentadores destes que aparecem, surgir um terceiro que se pode ouvir com alguma confiança.
Gostava de saber o nome da pivot da sic-notícias deste domingo, depois das 15 horas. Perante um jornaleiro, perguntas muito cirúrgicas, muito serenas. Não é frequente.
Num dos países fronteiriços, uma mãe refugiada sorridente por ter os filhos consigo, apesar de o marido, militar, ter ficado no país. E com um ar genuinamente cândido e sereno diz o que muitos ucranianos devem dizer também: "eu nem percebo por que razão os russos nos estão a atacar." E ainda bem que não houve ninguém lá a dizer-lhe a verdade: "São coisas lá das altas esferas da política; tu e os teus não são mais do que carne para canhão."
domingo, março 13, 2022
a historiografia woke
Ocupado com esta miséria da Ucrânia, quase não penso em mais nada. No entanto, acabado de ler este post do historiador João Pedro Marques (o título do blogue é um dos filmes da minha vida), deixo aqui o link, como homenagem à liberdade de pensar e ao prazer de o pôr por escrito.
sábado, março 12, 2022
sobre os militares (ucranianas XLIII)
Tenho escrito que os militares que têm vindo à televisão, com raríssimas excepções, são quem pode ajudar-nos a perceber melhor o que se passa; o que sucede inversamente com a maioria dos académicos, incompetentes e/ou parciais, boa parte parte dos que têm aparecido. Como não frequento "as redes", atraso-me mais uma vez. Parece que têm sido muito criticados (por quem?). Tive hoje acesso a um texto de Carlos Matos Gomes, militar, historiador e romancista (Carlos Vale Ferraz), numa plataforma cuja existência eu nem conhecia...
sexta-feira, março 11, 2022
a língua de pau soviética choca com o instinto da terra (passando pela Goldman Sachs e o congressista cuja boca foge para a verdade: tenta-se no fim encontrar uma explicação para a história da maternidade) (ucranianas XLII)
Do grotesco. A Goldman Sachs encerrou os seus serviços na Rússia. Não sei como vai o povo russo viver agora... (Ninguém lhes atira com uma bomba de fósforo?)
O sovietismo tardio, de Putin a Lavrov, passando por funcionários menores de não chamar guerra à tal operação militar especial. Se os ucranianos lhe tivessem caído nos braços, ainda podia passar; com o vender cara a pele quando o solo é invadido, não vale a pena continuar com a comédia. Mas também percebo que não fique bem chamar tabuleiro à Ucrânia e peões dos americanos aos dirigentes do país, que é o que eles foram nesta história, que andou muito depressa: quanto mais destruição menos o argumento NATO fará sentido, e o que era uma acção preventiva justificada pela geoestratégia russa torna-se numa brutal acção bélica, de que os russos terão muita dificuldade em libertar-se. Como digo desde o príncípio, o tempo corre contra Putin, e cada vez mais aceleradamente, não em termos militares (hoje, na rádio, ouvia o major-general Carlos Branco dizer que no que respeita a confronto efectivo, ainda só aconteceram escaramuças), mas nos custos políticos internos e externos.
Um congressista ou senador, não me recordo, americano, a propósito de uma pendência com os russos, que o conflito em curso torna de difícil resolução, deixa escapar um "agora estamos em guerra". Já se sabia.
Se os russos tomaram uma maternidade como alvo, temos de fazê-los recuar aos tempos de Átila o Huno. Como para caricatura já me basta aquilo em que tropeço hora a hora, só vejo duas hipóteses: ou um erro que lhes custou mais uma avalanche de propaganda hostil; ou, muito provavelmente, pois é uma táctica das forças mais fracas em teatro de operações, os ucranianos ali instalaram material militar, com o objectivo de suscitar essa propaganda, pela resposta de fogo que a tropa russa inevitavelmente daria. Oiçam os militares, que eles explicam como estas coisas se processam -- não é nada de novo. Ser acusado de chacinar crianças, destruir maternidade, etc., é altamente desmoralizador para quem o sofre; e quem é mais fraco tem de fazer das fraquezas forças. A guerra está cheia de maquiavelismos macabros.
quinta-feira, março 10, 2022
graças a Deus, ou ao Diabo, a Rússia tem um arsenal de armas nucleares (e o Sting mal empregado) (ucranianas XLI)
1. Não fora isso, a guerra já estaria generalizada ao continente e não só. Embora haja falcões que considerem a possibilidade de usar armas nucleares tácticas, a cartada mais arriscada de todas, a que se junta a formatação das opiniões públicas para um alargamento da guerra -- os quiproquós entre a Polónia e os EUA demonstram-no tão bem --, além dos tontinhos e dos doidos varridos, em especial alguns tudólogos do comentariado.
2. Entre uma piadola e duas gargalhadinhas, as rádios vão pondo no ar o Russians, do Sting, que está longe de ser um tema unilateral. Do álbum de estreia do cantor e baixo dos Police, um bom disco e uma bela música, com uma incrustação de um trecho do Tenente Kijé, do Prokofiev. Mal empregada.
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«Aceito de boamente o lema "O melhor governo é o que menos governa." Gostaria que ele fosse posto em prática mais rápida e sistematicamente. Em última análise, esse princípio resultará num outro em que também acredito: "O melhor governo é o que não governa."»
Henry David Thoreau, A Desobediência Civil (1849)
quarta-feira, março 09, 2022
quando isto acabar (ucranianas XL)
1. O choro dos adultos ainda me aflige mais do que o das crianças. Embora não me esqueça de ver uma miúda no mercado de Damasco a tremer quando ouve o som de uma bomba, dando a mão à mãe. Lembro-me das crianças do Iraque; lembro-me até das crianças da Bósnia-Herzegovina, mas, por pudor, não descrevo aqui a minha reacção ao que vi. Tenho isso tudo bem presente. Chamar nomes à Rússia e esquecer a preparação desta guerra pelos Estados Unidos é próprio dos tapados que não fazem ideia em que mundo vivem, e também dos outros, dos bandalhos da indignação selectiva.
2. Quando isto acabar, farei aqui o balanço do meu acompanhamento desta guerra; onde acertei, onde me enganei, o que ficou aquém e o que foi além. Prometo não ser meigo, se for preciso para mim próprio, embora até agora nada me tenha propriamente espantado.
3. Juro que ouvi ontem no carro um especialista alvitrar como entidades possíveis para a medição do conflito os Estados Unidos ou a UE. Isto ainda me espantou mais do que as grandes vitórias dos ucranianos no terreno, com a morte de mais de mil soldados russos por dia.
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«A dúvida reina no espírito dos homens, pois a nossa civilização treme em suas bases. As instituições actuais não mais inspiram confiança e os mais inteligentes compreendem que a industrialização capitalista vai contra os próprios objectivos que diz perseguir.»
Emma Goldman, O Indivíduo, a Sociedade e o Estado (1940)
terça-feira, março 08, 2022
coisas que fascinam: os grandes corações e mais notas (ucranianas XXXIX)
a Ucrânia, o Visconde de Santarém e a Iniciativa Liberal (ucranianas XXXVIII)
A última parvoiçada de que tive conhecimento: a IL vai propor que a Câmara de Lisboa altere o nome da artéria onde se situa embaixada da Rússia em Lisboa, a Rua Visconde de Santarém, para Rua da Ucrânia. Sobre esta pérola, ocorre-me o seguinte:
Em primeiro lugar, o oportunismo político e a macaqueação do que se faz lá fora. A Lituânia que mudou o nome da rua da representação russa para Rua Heróis da Ucrânia. É uma provocação, mas não comento as razões da Lituânia, que historicamente tem de queixar-se do imperialismo russo. Também, por higiene, não comento a pimponice da IL.
O que me parece verdadeiramente grave e sintomático é a burrice destes liberais de porta-moedas, que devem pertencer à escola dum palerma que terá afirmado num canal qualquer que a História não interessava para nada. São estes indigentes culturais e intelectuais (deixo do lado o oportunismo barato) que se atrevem a apresentar-se para governar o país ("funciona e faz falta", ou lá o que é...).
Depois da Geografia é a História que condiciona o percurso e a vida das nações e dos estados, muito mais do que a economia, de resto, que é meramente conjuntural. O petróleo de hoje extingue-se amanhã, o deserto, porém, continua.
O Visconde de Santarém, cujo nome a IL quer retirar para fazer um numerozeco político, é uma das maiores figuras da cultura portuguesa, figura aliás interessantíssima também pelo seu percurso político de miguelista, morto no exílio. Foi nesse exílio que ele empreendeu uma obra de historiografia dos Descobrimentos ímpar, que muito caminho desbravou aos historiadores que se lhe seguiram. Talvez a IL também não goste da palavra Descobrimentos, mas como também não sabe do que e de quem se trata, não faz mal.
Em baixo, deixo o quadro de Domingos Sequeira, Retrato da Família do 1.º Visconde de Santarém, que a pobre IL, um atraso de vida que não funciona e cuja falta que faz é relativa, quer retirar de uma rua de Lisboa.
segunda-feira, março 07, 2022
ucranianas (XXXVII)
Coisas sérias: O sofrimento da população, sempre e sem fim. Os funcionários dos museus, procurando preservar a história e a memória.
lérias:
1. Os mesmos países que venderam cinco mil milhões de euros em armamento à Ucrânia, são os que hoje vêm chorar os inocentes. Para que raio queria a Ucrânia o armamento? Para defrontar a Rússia? Ah... É evidente que na prática e para todos os efeitos esta guerra, que pode ser vista como preventiva -- é a forma mais lógica de encará-la, o resto é má propaganda e ignorância espessa --, acaba por tornar-se numa agressão, e qualquer ucraniano sente que tem se se defender nesta altura, independentemente de os seus líderes terem sido joguetes dos americanos.
2. Resposta para esta pergunta: por que razão não podia ser a Ucrânia como é a Finlândia? Até agora só ouvi conversa fiada.
3. Mariupol. Enquanto os nazis do batalhão de Azov não são chacinados pelos tchetchenos que os russos para lá mandaram, podem fazer da população refém. Aliás, quando há nazis envolvidos, os crimes de guerra estão garantidos. Talvez Putin exagere um bocadinho quando fala em desnazificação do país, mas que eles existem e têm poder, lá isso... Quem vem para os mérdia dizer o contrário ou é tolo ou quer fazer dos outros parvos.
4. Crimes de guerra. Enquanto o governo ucraniano diz matar mil soldados russos por dia, queixa-se também do ataque a civis, escolas, hospitais, etc. Fica, pois, já aqui escrito que tenho tendência para considerar tais "notícias" como propaganda manhosa. Na guerra de comunicação, se um dos lados puser um lança rockets a disparar ao lado de uma escola, hospital, área residencial, é certo e sabido que a resposta virá. e lá se vão casas e infraestruturas, mais uns quantos civis, e mais uma fornada de crimes de guerra. Ontem ouvi o bastonário dos advogados a dizer baboseiras como serem os crimes de guerra muito fáceis de provar. Então não são? Principalmente quando se come a papa toda que nos põem à frente.
5. Ainda ninguém sabe as consequências para a Ucrânia, dos objectivos russos. O que até poucos dias antes da guerra era a desmilitarização e neutralidade e a exigência de autonomia dentro do país, para as regiões separatistas, hoje poderá ser a neutralização da Ucrânia. Diz-se, e provavelmente com razão, que a Rússia não tem capacidade para ocupar permanentemente o país. Mas se do país não ficar pedra sobre pedra nas grandes cidades a desmoralização será tal, que no curto prazo isso pode acontecer. Fala-se também no abocanhar de metade da Ucrânia. A Rússia controla praticamente todo o sul; não me parece que uma Ucrânia independente possa prescindir do acesso ao mar. Que Putin gostaria de ficar com a Ucrânia toda, isso parece-me óbvio agora. Parece, não sei se assim será. Terminada a terceira ronda de negociações (para quando um mediador?), sinto os russos a recuar para a situação imediatamente pré-guerra: neutralidade da Ucrânia, reconhecimento da Crimeia russa e, se ouvi bem (agora) o reconhecimento da situação no Donbass (antes era apenas a autonomia, agora parece-me difícil um recuo).
6. A prisão de manifestantes antiguerra na Rússia não é mais do que um sinal de fraqueza do governo, mesmo com a CIA à solta.
7. O Zelensky insiste em querer arrastar-nos para uma guerra. Com os mérdia em operações pedrógão grande sobre a guerra, o rebanho ainda há-de forçar os líderes de craveira internacional da UE. Ainda no carro: um jornalista qualquer na TSF mostrava-se chocado por o Ocidente não pôr tropas no terreno. Um tontinho com idade para ter juízo.
domingo, março 06, 2022
a bofetada de Zelensky à NATO e o silêncio em torno
Só agora posso escrever sobre o que ouvi sexta-feira: o ataque desesperado e virulento de Zelensky aos países da NATO, que não vi ninguém comentar, certamente falha minha. Seria aliás uma pergunta interessante a fazer-se aos comentadores, se houvesse por aí jornalistas.
Antes e depois do ataque russo, temos ouvido concertadamente do lado dos responsáveis ucranianos -- do presidente à embaixadora, entre outros -- que a invasão da Ucrânia faz parte de um impulso expansionista que, se não for travado, passará além das suas fronteiras, num claro propósito de forçar os líderes e as opiniões públicas a entrar na guerra.
A minha dúvida é esta: se os dirigentes ucranianos serão tão irrealistas, irresponsáveis, estúpidos até, que possam achar que nos arrastarão para um III Guerra Mundial. Pode ser apenas desespero, embora duvide.
O que me parece claro é que os patifes dos americanos -- até agora os grandes beneficiários desta guerra -- iludiram o suficiente a cúpula política, vendendo armas e dando umas garantias de boca, que obviamente sabiam que não iriam cumprir quando o caldo se entornasse. (Os americanos são useiros e vezeiros em deixar cair os aliados, ainda recentemente afegãos, curdos, o costume).
É a única explicação que vejo para o destrate de Zelensky, para além de um irrealismo político a toda a prova: a de que o mundo iria suicidar-se por causa da Ucrânia, cujos dirigentes são aliás bem pouco recomendáveis.
É isto que é preciso dizer e olhar, e repetir, uma e outra vez: a guerra na Ucrânia tem como principais responsáveis os seus dirigentes, que sujeitaram o próprio país à condição de peão do jogo entre as superpotências. O resto não passa de sentimentos pios e descargas biliares, simples e inúteis.
Em tempo: Zelensky responsabiliza a NATO e a UE pela morte de ucranianos, se não houver interdição do espaço aéreo e fornecimento de aviões de combate.
sexta-feira, março 04, 2022
Rússia-Ucrânia e a repetição como higiene (ucranianas XXXV)
Há um princípio inegociável para mim: o da autodeterminação dos povos. Isto serve para todos e não de acordo com as conveniências (se há coisa que não suporto é a desonestidade intelectual): para catalães, tchetchenos, bascos, os húngaros da Roménia ou os russos do Donbass e da Crimeia; e aplica-se também e obviamente aos ucranianos.
A minha cultura eslava é incipiente, e o próprio conhecimento da história da região está muito abaixo do que devia. O que sei, ou julgo saber, é que a Ucrânia tem uma história partilhada com a Polónia e com a Rússia, sendo um povo diferente. Não faço ideia do que realmente pretende Putin quando diz que são um só povo. Ocupar toda a Ucrânia? (Os analistas têm dito que não é possível para as capacidades da Rússia.) Se assim for, estaremos perante uma ocupação ilegítima, e a Rússia não terá descanso. Mas creio que ninguém ainda sabe quais as verdadeiras intenções, excepto em Moscovo.
Claro está que estas minhas considerações não se desviam um milímetro da avaliação que tenho feito, e que coincidem praticamente a 100% com a avaliação do PCP, o único partido que neste caso é para levar a sério (confesso que não me preocupei em ver o que pensa o BE, para cuja opinião me estou nas tintas, tal como estou para as do PS ou do PSD, que não valem um caracol, entre a banalidade e o seguidismo patético).
E repetindo-as, por uma questão de higiene (gosto sempre de o fazer, é como um duche que nos lava do peganhento da propaganda e da vigarice): o que se passa é uma resposta russa ao progressivo avanço americano a que se junta a rapacidade do costume (o gás natural). Além dos americanos, os principais responsáveis por esta situação estão na cúpula política ucraniana, que, comprada/enganada/iludida (riscar o que não interessa) não esteve à altura de proteger o seu país. O resto são histórias da carochinha para ler às crianças ao deitar.
quinta-feira, março 03, 2022
exercícios: (ucranianas XXXIV)
Para dar opinião válida há que ser credível. E só o é quem, para além da boa-fé e de um conhecimento mínimo, procure ver com objectividade os problemas que se lhe deparam. Isto serve para todos, a começar por mim próprio.
E a primeira condição para ter um crédito mínimo é reconhecer que se trata aqui e agora na Ucrânia de um conflito entre dois imperialismos, o russo e o americano. Quem opina sem ter em conta as forças em presença, não merce que se lhe dispense dois segundos.
E depois, uma grama de honestidade intelectual. Encher a boca de lindas palavras e conceitos para atirar ao papel ou ao ecrã, por favor... Alguém acha que os Estados Unidos tolerariam qualquer espécie de aliança, acordo, sequer influência de uma potência rival, Rússia ou China, no México ou no Canadá, por absurdo? Que não mudaria a cúpula dirigente que se atrevesse a fazê-lo por que meios fossem necessários?
Primeiro, reconheça-se isso, depois fale-se, mesmo lamentando as vítimas, a carne para canhão.
Em tempo: é o caso, hoje do major-general Agostinho Costa, no jornal da RTP2, às nove.
nazis e ópera, animais e Nietzshe, com um pouco de 'orientalismo', terminando em Lucky Luke (ucranianas XXXIII)
No café: CNN internacional, Ópera de Odessa barricada com sacos de areia, tal como na II Guerra. Repórter entrevista alguém comovido, e diz: "mas nessa altura vocês estavam a combater os nazis"; resposta: "e agora também estamos". Não é maravilhosa esta identificação russo = nazi? Ainda bem que já não estamos sujeitos a propaganda disfarçada de jornalismo. Os nossos líderes protegem-nos.
Por falar em nazis: a guerra é um fenómeno bestial, a animalidade do ser humano vinda ao de cima na sua forma mais crua (há outras menos expostas às claras, como a cupidez e a vontade de poder, esse animalesco conceito nietzschiano -- animalesco, porém verdadeiro). Li/ouvi: que em Mariupol está o Batalhão de Azov, os neo-nazis, nossos aliados no mundo livre; e que um destacamento tchetcheno se prepara par os combater do lado russo. Ora o meu orientalismo, malgré Said, diz-me que será uma carnificina de parte a parte. Tenho pena de recorrer ao lugar-comum, mas as forças em presença a isso me leva.
Análise de pacotilha: Putin tem medo que a Ucrânia seja contaminada com os hábitos ocidentais das sociedades democráticas.
A última pergunta do ministro Lavrov. Falemos sempre nos milhares de mortos da guerra do Iraque e dos fora de dúvida criminosos de guerra de então. Crimes de guerra agora -- para além do crime contra a humanidade que significa qualquer guerra -- ainda não dei por nenhum. Se alguma alma pia quiser ter a bondade de me esclarecer, sem papaguear telejornais, fico desde já penhorado.
Devo ler demasiada BD: ver e ouvir o Biden no Capitólio transporta-se imediatamente para um saloon do Morris, para uma história do Lucky Luke. Estou sempre à espera de o ver puxar o cilt, tiros para o ar, com um sonoro yipee!...
Santos Silva andou os últimos oito anos a dormir na forma e só agora acordou para o Direito Internacional (ucranianas XXXII)
A censura do canal russo RT deve ter um efeito praticamente nulo, uma vez que por cá será ser visto por meia dúzia de gatos. Eu, que de vez em quando por lá passava, tentei evitá-lo nesta altura. Já me basta o banho de propaganda que levo diariamente destes anormais, embora a RT seja um canal noticioso muito bem feito, mesmo do ponto de vista jornalístico; mas era obviamente um canal do estado russo. No que respeita a propaganda, porém, a CNN internacional não lhe fica atrás. (Quem ache que a CNN original é algum modelo de jornalismo, não tem noção.)
Esta decisão de impedir o acesso ao canal só conspurca quem a tomou, a UE transformada em braço político da NATO e conivente com os americanos, esses sonsos.
Portantos é assim: martelar no desequilíbrio mental do Putin aos mísseis russos em parques infantis e o número de crianças mortas, a culminar nos crimes de guerra e da acção do tpi (boa piada), há muito por onde escolher para encarreirar a manada.
É deveras engraçado que durante a 2.ª Guerra do Iraque (estive na manifestação em Lisboa contra ela), nunca ouvi falar em mortes de crianças. Talvez por duas grandes razões: ou porque eram árabes, e o Ocidente se está nas tintas para essa escarumba, ou então pela razão óbvia de os mísseis americanos bombardearem mais branco.
Com a opinião pública internacional bem dirigida e condicionada, depois de a maior parte dos seus governos terem sido parte activa, cúmplices ou indiferentes relativamente à situação a que se chegou, poderiam ter feito o número da superioridade das sociedades liberais. O meu receio é que deixem de convidar os militares, que na maior parte são os que sabem analisar o que está a acontecer. Vejam no jornal da RTP3, edição das 9 (2 de Março), mais uma vez o major-general Raul Cunha, um entre vários que sabe do que fala, sem precisar de ser amigo do Putin.
E por falar em sonsos, de cada vez que o Santos Silva abre a boca, sai asneira.
quarta-feira, março 02, 2022
ucranianas XXXI
Por volta das duas da manhã, Biden falava em directo. Não sei se consegui aguentar um minuto, enjoado e enojado com o cinismo, a hipocrisia e a impunidade.
Dizer que os Acordos de Minsk nunca foram cumpridos pelo lado ucraniano, não interessa nada, não é verdade? O que importa é sermos termos todos as nossas mensagenzinhas piedosas contra a guerra -- eu faço ideia de quanto voyeurista macabro não anda por aí a chorar-se de azul e amarelo. As perseguições e humilhações aos russos na Ucrânia, o que é que isso interessa?
Em 2014 perguntei aqui por quanto tempo iria resistir Putin a provocações.
Repetindo-me: a maior desgraça da Ucrânia foram os seus dirigentes,
III Guerra Mundial. Fica para a próxima posta. Primeiro quero ouvir se o Macron vai pôr em estado de alerta a sua force de frappe.
Ucrânia: elogio do PCP
Como já aqui escrevi, a posição do PCP é impecável sobre o contexto político da guerra na Ucrânia, independentemente doutras considerações ideológicas, e cujo comunicado inicial se pode ler aqui; e este parágrafo é irrepreensível:
"O PCP salienta que o agravamento da situação é indissociável da perigosa estratégia de tensão e confrontação promovida pelos EUA, a NATO e a UE contra a Rússia, que passa pelo contínuo alargamento da NATO e o reforço do seu dispositivo militar ofensivo junto às fronteiras daquele país, e em que insere a instrumentalização da Ucrânia, desde o golpe de estado de 2014, com o recurso a grupos fascistas, e que levou à imposição de um regime xenófobo e belicista, cuja violenta acção é responsável pelo agravamento de fracturas e divisões naquele país."
Se algum pecado tiver, será por defeito. Embora para o cidadão comum, a leste destas matérias, possa parecer críptico, qualquer observador honesto sabe que este parágrafo é correctíssimo (e, de resto escrito em bom português, e sem usar o aborto ortográfico). O mais, é pura desonestidade intelectual, vigarice, analfabetismo jornalístico funcional.
terça-feira, março 01, 2022
"terrorismo geo-político"
Quem ainda não percebeu que isto é uma guerra entre a Rússia e os Estados Unidos, não vê um boi. A Ucrânia faz aqui o papel de território onde as potências se defrontam; e os ucranianos a função de carne para canhão.
O perfunctório Charles Michel acusou a Rússia de terrorismo geopolítico -- não sei em que contexto, talvez pela prontidão do armamento nuclear dissuasor.
Quem faz terrorismo político desde a Guerra Fria são os americanos, normalmente por péssimas razões: desde terem atirado Fidel Castro (que não era comunista, quando se opôs em armas à ditadura putanheira cubana) para os braços da União Soviética, como operaram, em conluio com os ingleses para derrubar o Mossadegh no Irão, nos anos 50. A que recorrereu a CIA para agitar a população contra o então primeiro-ministro? Estão mesmo a ver não estão? Aos aiatolás, é claro. Em 1979 aí estava o Khomeini no poder; e os americanos do momento a perguntarem-se como e porquê...