«Tinha a vocação íntima da música; trazia dentro de si muitas óperas e missas, um mundo de harmonias novas e originais, que não alcançava exprimir e pôr no papel. Era esta a causa única da tristeza de Mestre Romão.« Machado de Assis, Histórias sem Data (1884» -- «Cantiga de esponsais»
quarta-feira, março 26, 2025
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1 comentário:
«Ora, se hoje é assim, não passando de fumo, reflexo, sombra fátua do que foi, que halo envolvia no século XVI a pessoa dum poeta? Decerto que esta prenda, versejar, viera com os trovadores. Enquanto se confinara à cantiga de amor ou de maldizer, breve e oportuna como um gracejo ou chufa, era missanga do Paço. Desde que entrou para a categoria de arte mesteiral, irradiou para o vulgo. Com isso, o poeta teria ficado mais perto do aedo grego, que andava de terra em terra cantando os feitos de guerra e os amores dos heróis, do que do senhor de cabeleira já tratada, unhas brunidas ao polidor, que se senta à mesa do Círculo Eça de Queirós para fazer coro ao luminar estrangeiro das letras, hóspede de António Ferro. De verdade, que este é o poeta oficial, forma que não existia no século XVI. No século XVI o que existia, de aproximado calibre, eram os rimadores cortesãos. Mas estes cultivavam as musas tão mecanicamente como aprendiam a montar a cavalo ou a dançar. Sem obedecer a nenhum outro mandato superior. E estavam tão longe do poeta livre, do poeta sem coleira, do poeta que canta por inspiração de Deus, se bem que tirando daí o seu pão, como a noite do dia.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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