Ninguém sabe o que vai fazer o Trump; mas se houver um mínimo de coerência (e Trump não é só Trump, e o apêndice Musk, mas, por enquanto na sombra, também J. D. Vance, com outra densidade), viverá tranquilamente com consagração de facto das zonas de influência, ou seja "A América para os americanos", o Próximo Oriente e a Europa vizinha para os russos (embora não acredite que lhes entregue os Bálticos e muito menos a Polónia, o que equivaleria a Nato estar morta, o que não é o caso, pelo menos ainda); o Pacífico para quem o apanhar; África de novo uma espécie de self-service, para quem primeiro erigir padrão (estou a exagerar, embora Áfricas existam muitas); e a velha Europa submissa, condenada nos próximos cinco anos a esta mediocridade vassala, perdeu uma oportunidade para contar alguma coisa, harmonizando as diferentes sensibilidades; mas isso seria pedir muito; e ainda estamos longe de uma integração coerente, se é que alguma vez lá chegaremos.
A Inglaterra e a Ucrânia assinaram ontem um acordo para cem anos; a Rússia e o Irão estabeleceram hoje uma parceria estratégica. É o regresso às ententes que tão bons resultados deram, e uma complicação dos diabos. De qualquer modo, a Rússia já ganhou a guerra que lhe foi movida pelos americanos e proxys ucranianos e da UE. Esta estrebucha, até ser tomada por dentro, tornando-se outra coisa -- o que não tem que ser necessariamente mau. Péssimo é aquilo em que se tornou nos últimos anos.
3 comentários:
A UE só tem a si própria para se culpar da total irrelevância a que chegou. Uma fornada de líderes profundamente corruptos e incompetentes, coadjuvada por uma imprensa e por uma legião de comentadeiros que nesta pulula totalmente vendida, conseguiu em poucos anos a proeza de se tornar totalmente irrelevante nos assuntos globais. Cortaram-se todas pontes com a Rússia, de onde chegava energia relativamente limpa e baratae para onde tanta coisa se vendia, inclusive carne de porco made in Portugal. Hostilizou-se a China e embarcou-se numa guerra comercial com essa macro potência que nada de bom augura. Descurou-se África, onde paulatinamente os interesses russos e chineses se vão impondo, com nomeadamente a França a ser alvo de retiradas humilhantes. Com o apoio cego à Ucrânia a Europa desmilitarizou-se. Estamos totalmente à mercê dos humores de uns Estados Unidos que de nós põem e dispõem como se fossemos meros peões. O caso NordStream foi um dos mais emblemáticos desta submissão obtusa e sabuga. As recentes bravatas da futura administração dos EUA em relação À Gronelândia não são meramente bravatas; são a constatação óbvio de que ao abdicarmos dos laços comerciais com as outras potências estamos entregues aos EUA e ao que estes ditarem.
Em consequência de tudo isto o custo de vida na Europa aumentou (e continuará a aumentar) exponencialmente. As desigualdades sociais agravaram-se; a pequena elite que políticos anões e os pasquins dos média servem estão cada vez mais ricas e a generalidade das populações cada vez mais pobre. Enquanto isso, partidos que tradicionalmente defendiam o primado do valor da Igualdade sobre o da Liberdade enredam-se em causas estúpidas, como a da defesa acéfala de uma imigração totalmente desregulada e a promoção das “virtudes” de uma agenda wokista/decandentista que ofende profundamente a maioria das pessoas. Os cidadãos sentem-se numa larga percentagem alienados das elites políticas e ou preferem nada fazer, na sua mais expressiva maioria, ou radicalizam-se em movimentos de direita populista e em muitos casos radical. Assistimos à ascensão de figuras providenciais, de que é bom exemplo o nosso doméstico capitão iglo. Os serviços públicos que contam, como a Saúde e a Educação, degradam-se, pretendendo-se ao invés desviar os recursos para uma remilitarização absurda; as nossas indústrias, mercê dos elevados custos da energia, veem-se obrigadas a fechar portas (o caso alemão e da sua indústria automóvel é flagrante); enquanto isso, que fazem os partidos ditos de “Esquerda”? Entretêm-se a dizer-nos que mais imigração, que só promove a descida dos salários de todos é que o valor pelo qual temos de lutar; entretêm-se a dizer que fazer paródias com os valores tradicionais, como a da execrável abertura dos jogos olímpicos, é que é de louvar. Esquecem que o que conta para o comum dos mortais é o seu poder de compra, é o terem ou não condições dignas para criarem os seus filhos; é o sentirem que podem passear na rua sem terem medo de ser assaltados; é o não estarem sujeitos a graves problemas de saúde cuja resolução é agendada para meses e às vezes anos após surgirem os sintomas. Em resumo, o futuro não trará nada de bom, até porque os do costume, essa legião de pulhas que pulula nos média nos diz que tem de ser assim, que temos de empobrecer e de morrer alegremente por mentiras que a eles compensam, dado que recebem as migalhas que os oligarcas lhes servem; quantos, por exemplo em Portugal, das soleres às ferro gouveias, passando pelos execráveis duma coisa chamada SEDES não comem da gamela? Isto para não falar dos mais “sofisticados”, como os azeredos lopes e os seixas das costas, que muito largam são com certeza, nos conselhos de administração disto e daquilo, nas prebendas e avenças disto e daquilo. Gente que fala de poleiro, gente que nos vende que eles é que sabem, que o resto é fake news. Fake news o c******, eles é que são fake news, os guardians, as cnns e todos os outros dignos representantes da “gente séria”, mais os palhaços úteis da “esquerda” caviar que nos empurram a todos para os braços dos venturas e das le pens. Dos sacanas que me dizem que o importante é a “liberdade”, como se a minha, que passo os dias a labutar em trabalhos precários e de merda para ganhar meia dúzia de tostões, a ter pesadelos sobre como vou pagar tudo até ao fim do mês fosse igual à deles. Se assim é, PQP essa “liberdade”. Enfim, fica o desabafo, um bom fim de semana meu caro.
Caro Lúcio, obrigado por esse desabafo, e ele aqui fica. Há coisas sobre as quais me sinto incompetente para dissertar. mesmo em conversa de café. No entanto, de tudo o que escreveu diria que há assuntos demasiado sérios para serem deixados ao abandono, à espera que os oportunistas lhes peguem.
Também para si.
Enviar um comentário