«Outro sopro. Desta vez o pinhão, como um pretinho da Guiné de tanga a esvoaçar, liberou-se da cela e pulou no espaço. Que pára-quedista! // Precipitado tão de alto do pinheiro solitário, balançou-se num instante e ensaiou um voo oblíquo. A meio caminho volteou, rodopiou, viu as nuvens ao largo, a terra em baixo e, saracoteando a fralda, desceu em espiral.» Aquilino Ribeiro, A Casa Grande de Romarigães (1957)
«Entretanto, Luciano, arrancando-se à enlevada adoração, despegou-se da janela e foi sentar-se a uma antiga escrivaninha, remexendo febrilmente pastas repletas de papéis. / O recinto revelava, na verdade, extravagante interior de artista.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1920)
«Meu tio, // Há neste livro páginas que vos pertencem, porque eu nunca as teria escrito se a minha Boa Sorte me não tivesse guiado para o retiro de ascetismo voluptuoso onde viveis, em beato sossego, praticando a moral divina de Epicuro e cuidando flores; outras há, e profusas, derivadas da sabedoria fecunda do dr. Gomes, de quem guardo saudades e conceitos; outras, finalmente, que seriam dedicadas à Jesuína se o escrúpulo não existisse na moral privada.» Coelho Neto, A Capital Federal (1893)
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«Mas, entendamo-nos, esta é a mentira da vida das relações, transitória como a virtude de qualquer dama dos chás de caridade, a mentira possidónia. Há um conceito do real que, pelo facto da sua intemporalidade e o ponderoso do seu conteúdo, transcende das vantagens que oferece a convenção ao nosso comedimento. O erro é sempre nocivo e a melhor obra espiritual do século XIX e continuada neste foi a de clarificação, descondensando os mitos de seus absurdos e teias de aranha, e expungindo da ganga escolástica os princípios por que se rege a vida.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões-Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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