«1. O vento, que é um pincha-no-crivo devasso e curioso, penetrou na camarata, bufou, deu um abanão. O estarim parecia deserto. Não senhor, alguém dormia meio encurvado, cabeça para fora no seu decúbito, que se agitou molemente. Voltou a soprar. Buliu-lhe a veste, deu mesmo um estalido em sua tela semi-rígida e imobilizou-se.» Aquilino Ribeiro, A Casa Grande de Romarigães (1957)
«Ao Revm. padre Ambrósio Coriolano d'Anunciação Lousada, vigário em Tamanduá, como humilde testemunho de gratidão, pelos severos conselhos com que fortaleceu o meu espírito e pelos cascudos com que me abriu a cabeça para que nela entrassem as regras de concordância e os versos de Virgílio, ofereço este livro. // Tamanduá, em Minas -- Janeiro, 93» Coelho Neto, A Capital Federal (1893)
«Dia de calor. Paz à nossa volta. Encontrámo-nos ali sem combinar, um daqueles hábitos que nunca se sabe bem porque começam, talvez por acaso ou pelas razões ocultas que umas vezes nos levam a buscar companhia e doutras nos empurram para a solidão.» J. Rentes de Carvalho, A Amante Holandesa (2003)
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«Sempre que se trata dos grandes vultos, esses que em que se concentra o orgulho patrimonial de um povo, gente por via de regra bem pensante e respeitável descerra todo o seu gosto de conservação e repouso na sentença, que podia ser salomónica, mas não é: 'o que está, está'. É portanto melhor que a crítica passe de largo, deixando-os como sobrevivem na tradição, ajoujados, embora desnecessariamente, de enfaixes, ouropéis, falsos chamalotes da glória, que assentariam com mais propriedade em múmias? Mesmo que seja essa uma postiça auréola de plaqué? O espéculo do censor será já por si uma irreverência?...»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões-Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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