«A sua primeira tarefa era a ordenha. Tirar o leite a mais de duzentas ovelhas e arrastar para fora da corte os cântaros cheios, é trabalho que estafa um adulto. Para ele, aos onze anos, era o começo do dia. E antes de o sol romper pegava no cajado, deitava o surrão ao ombro, assobiava um silvo de comando e abria a grade.»
«Essa era a vida do Gato, desde o romper do dia até à hora do comboio. Deixava então os rebanhos entregues aos cães, e corria à taberna da aldeia, a buscar o saco do correio. Em seguida, formiga apressada, ia encosta abaixo, encosta acima, até desaparecer do cume que esconde a planura que levava ao apeadeiro.»
«Calado, esforçava-se por encontrar um superlativo, mas incapaz de o descobrir fazia comparações: ser correio era melhor do que ser guarda, melhor que caçador, taberneiro, feirante, sacristão...»
J. Rentes de Carvalho, A Amante Holandesa (2003)
2 comentários:
http://tempocontado.blogspot.com/2023/03/pelo-gosto-das-palavras-mortas-2.html?m=1
Obrigado!, vou ler.
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