sábado, março 11, 2023

num semestre literário

 1 de Janeiro de 1675:  De Roma, um achacado Padre António Vieira confia a Duarte Ribeiro de Macedo os seus receios pelas «extravagâncias» de um novel pregador em Lisboa, Frei António das Chagas, que parece impressionar os fiéis, temendo a possibilidade de um recrudescimento da perseguição aos cristãos-novos: «Haverá dois ou três anos começou a pregar apostolicamente, exortando à penitência, mas com cerimónia não usadas dos Apóstolos, como mostrar do púlpito uma caveira, tocar uma campainha, tirar muitas vezes um Cristo, dar-se bofetadas, e outras demonstrações semelhantes, com as quais, e com a opinião de santo, leva após si toda Lisboa.» Andrée Rocha, A Epistolografia em Portugal, 2:ª ed., 1985.

1 de Fevereiro de 1908:  Raul Brandão recebe a notícia do assassínio do rei D. Carlos: «Está uma tarde linda, azul, morna, diáfana. Converso na Livraria Ferreira com o Fialho, quando entra esbaforido e pálido o pintor Artur de Melo, que conheço do Porto, e diz num espanto ainda transtornado: «-- Acabam de matar agora o rei!» Memórias vol. I  (1919)

1 de Março de 1933:  Estudante em Coimbra, Miguel Torga anota no Diário, a propósito da "diversão" da matança de gatos: «Não há universidade que nos tire da idade da pedra lascada.»

7 de Abril de 1962:  João Palma-Ferreira evoca no Diário os subterrâneos Joyce, Kafka e Pessoa, a coragem da obra, e o nanismo dos consagrados autores nacionais: «Ou haverá aí algum Kafka incógnito a pregar-lhes a partida?»

1 de Maio de 1500:  Pero Vaz de Caminha redige a célebre carta a D. Manuel I, por ocasião do achamento do Brasil, obra-prima da literatura portuguesa: «[Vossa Alteza] creia bem por certo que, para alindar nem afear, não porei aqui mais do que aquilo que vi e me pareceu.»

1 de Junho de 1890: Camilo Castelo Branco suicida-se em casa, São Miguel de Seide, com um tiro de revólver.

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