A propósito desta peste dos abusos sexuais na igreja, ainda há dias vi em imagens de arquivo Francisco manifestar a sua vergonha repetidamente e duma forma dilacerante. Sou ateu, embora de formação católica, como quase todos os portugueses; andei seis anos num colégio de padres e felizmente nunca por lá se ouviu, pelo menos no meu tempo, qualquer escandaleira relativamente a abuso de crianças, embora houvesse por lá um que fazia incursões nos colégios de religiosos femininos (era o tempo da separação dos sexos). Nada deve ter acontecido a esse gajo, que ou já está no Inferno, ou para lá caminha (costuma dizer-se que os patifes têm vida longa).
Não vou elaborar sobre os efeitos nefastos da pseudo-moral judaico-cristã, até por incompetência para tal, nem sobre a hipersexualização do espaço público, nomeadamente publicidade e televisões, que deve virar a cabeça a muito labroste. Tem-se falado nas consequências do celibato obrigatório; neste ponto concordo com o padre Anselmo Borges: para determinados indivíduos, este afastamento repressivo e antinatural do sexo oposto será fautor de uma sexualidade desviante e doentia. Aliás, não se percebe a parvoíce da da sua manutenção, uma vez que não é uma questão dogmática. Traumas da Reforma? É bem possível que a igreja católica esteja a atravessar a sua crise mais profunda dos últimos séculos. No Chile incendiaram-se igrejas, e não foram os revolucionários anarquistas.
Parte da igreja (em que proporção?) é um organismo doentio e malsão. Não é algo que me agrade particularmente, pelo importante papel social que ela tem, e, já agora, por razões histórico-culturais. Portugal existe porque houve uma aliança e uma política inteligente de D. Afonso Henriques no que respeita à ocupação do território. Sem ele, Portugal não existiria, e creio que sem a igreja também não.
Voltando ao bom papa Francisco: alguém viu replicado nestes desgraçados bispos de quem se fala a vergonha excruciante do sumo pontífice? Eu só vi justificações canhestras, pés pelas mãos, já para não falar dum imbecil que é bispo em Beja, um idiota em Santarém, mais o tontinho do Porto. Com excepção daqueles que prontamente agiram, só vi falta de empatia pelas vítimas, estão-se nas tintas para elas. E como cidadão tenho toda a legitimidade para perguntar-me onde acaba o desinteresse anticristão e começa a cumplicidade.
Sem comentários:
Enviar um comentário