segunda-feira, maio 23, 2022

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«Quem primeiro juntou ao seu ofício de ganhar o pão o gosto de coleccionar alguma coisa -- copos, relógios, caixas de fósforos, selos de correio, ingratidões -- fez dois achados preciosos: um motivo de interesse para a existência pardacenta de cada dia e um expediente para apressar o correr da máquina do tempo.» 
Fidelino de Figueiredo (1886-1967), «O gosto de coleccionar», Um Coleccionador de Angústias (1951)

Pela ironia do objecto coleccionável aduzido se percebe que o coleccionismo de que se falará, num livro que pertence à minha estante definitiva não será de modo algum o de porta-chaves. Fidelino de Figueiredo, que hoje quase ninguém sabe quem tenha sido, é uma dos grandes intelectuais portugueses do século XX, e não só. António José Saraiva dedicou-lhe o notável A Tertúlia Ocidental, ao seu mestre.
Como não somos um país sério nem para levar a sério, apesar da vetusta idade, Fidelino só existe nas bibliotecas e nos alfarrabistas. Outra coisa fôssemos, e haveria, disponível e a preço acessível, um ou dois volumes antológicos. Ele é apenas um em muitos casos. Achavam o Eduardo Lourenço bom? Pois este é melhor.  O azar é nosso.

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