Vi hoje duas intervenções de Carla Rodrigues, com imagem de João Franco, na CNNPortugal/TVI a partir de uma tenda em Zaporíjia -- a antiga Aleksandrovsk do Império Russo --, acolhendo refugiados vindos das cidades do sul, como Mariupol.
Sem ter nada de espectacular enquanto reportagem de guerra -- ataques, fugas, etc. -- foi das melhores a que assisti, pela sua dimensão humana. Muita gente nove e de meia idade, algumas crianças (não me lembro de ver velhos), em actividades tão anódinas como fundamentais pata quem vem de da guerra: tomar uma refeição, falar com o vizinho da mesa, preencher formulários, falar ao telefone com familiares ou amigos, dando ou recebendo notícias.
Segundo Carla Rodrigues, são pessoas exaustas, física e em especial psicologicamente. Pudera. E a ecoar, a pergunta tantas vezes já por mim ouvida, transmitida pelos mensageiros, os jornalistas: porquê isto?; porque nos estão a fazer isto?...
São as vítimas daquilo que o Mircea Eliade designava pelo terror da História. Somos todos nós, quantos querem viver a sua vida sem oprimir ninguém nem ser oprimido ou utilizado, apanhados pelo jogo de interesses e pelas políticas imperiais e belicistas, demasiado fracos para sustê-las, tendo poucas formas de resistir: fugir, ficar ou ficar e pegar em armas conforme o lado de que se esteja.
Sons e imagens que nos forçam à humildade, mas que nos espicaçam ainda mais o sentido crítico, para perceber o que está em causa e as origens de tudo isto. E fazê-lo com honestidade e independência moral, como sempre procurei e continuarei enquanto me deixarem, a propósito desta guerra entre os Estados Unidos e a Rússia em solo ucraniano, como sempre tenho dito e continuarei a dizer cada vez com mais força -- estamos à beira de uma guerra incitada pelos Estados Unidos (ou pelo Pentágono e a CIA, que, em política externa significam EUA).
Outro momento particularmente comovente foi o da nonagenária de São Petersburgo, sobrevivente do cerco de Leningrado, detida por, maravilhosa, protestar contra a guerra na Ucrânia, empunhando dois cartazes caseiros.
Finalmente, outra cena marcante, agora perto da frente, com a repórter Ana Sofia Cardoso e o repórter de imagem, cujo nome infelizmente não fixei: com uma camponesa ucraniana de enxada na mão quando têm de abrigar-se dos morteiros disparados pelos russos. A camponesa entoa a ladainha, e pela tradução e entoação, percebi que não era apenas um responso de livração do perigo, mas uma verdadeira encomendação da alma. Dramático a valer...
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