Quando ouvi na rádio que o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) associava o hip hop à criminalidade, fiquei indignadíssimo. O hip hop, como qualquer forma musical, como qualquer prática artística, é um verdadeiro bálsamo para quantos correm o risco de vegetar numa adolescência sem horizontes e alienada -- que é isso que as nossas sociedades têm para oferecer a quantos crescem em meios desprovidos, e não apenas de dinheiro.
O hip hop -- e eu nem tenho nenhum disco do género -- é uma extraordinária manifestação cultural, tanto na arte musical, pelo sangue novo que trouxe à música popular, a capacidade de misceginação com outros géneros, e, nos melhores casos, o próprio trabalho com as palavras, nas suas significações e sonoridades; como na consciência cívica, espírito crítico, cidadania. E depois, como em qualquer género, do fado à erudita, há de tudo, do excelente ao péssimo.
Mas o RASI não faz uma associação dessa maneira simplista, divulgada pela imprensa; o que diz -- duma forma burocrática e sem chama -- é que no universo dos gangues, se trata de um dos factores de identificação entre os seus elementos. E então? Se um faia do Bairro Alto fosse um apanhado pela "Casa da Mariquinhas", associava-se o Alfredo Marceneiro às quadrilhas de rufias?
Ou seja: a criminalidade não está ligada ao hip hop, pelo contrário, o hip hop traz algum sentido e pode ser até a salvação para quantos, nas sociedades predatórias em que vivemos, são deixados à sua sorte.
Também aqui as massas -- para utilizar uma expressão tão horrível quanto certeira --, também aqui elas são carne para canhão. E não fora o hip hop e muitas outras manifestações artísticas, o triste mundo em que vivemos seria ainda mais feio e perigoso.
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