domingo, julho 06, 2025

o que está a acontecer

«Na segunda quarta-feira de Setembro de mil novecentos e setenta e cinco, comecei a trabalhar às nove e dez. Lembro-me não por ter uma memória por aí além ou escrever o que me acontece num diário (nunca me interessaram diários ou poemas ou patetices dessas) mas porque foi o meu último dia de consultório antes de fugirmos para Espanha.»  António Lobo AntunesAuto dos Danados (1985)

«1. "Quem vem lá?, Bradou ele na direcção dos passos que chapinhavam do outro lado da morte. Do lado de lá da morte havia apenas uma sebe de bambus já mortos no escuro, e uma espécie de tumor na sombra fazia supor que uma enorme cabeça degolada andava à solta na noite.» João de Melo, Autópsia de um Mar de Ruínas (1984)

«GONÇALO E ANTÓNIO  - Meu pai dizia-me que da janela da repartição onde trabalhava se via o mar... / -- Que fazia teu pai? / -- Que fazia meu pai? Não fazia nada, era oficial da marinha. Entrava na repartição às 10 e saía às 6... Lá o que ele fazia na repartição não sei... Preenchia papelada ou sonhava com navios... sei lá...  talvez olhasse para o mar através da janela... Quando chegava a casa lia o jornal, fazia as palavras cruzadas e ia para a cama. Era oficial da marinha, digo-te eu...» Luís de Sttau Monteiro, Angústia para o Jantar (1961) 

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«É solidária com ela essoutra de que Portugal contemporâneo constitui um alfobre de mestres, diplomatas, artistas de primo cartéllo. Tendo em vista a craveira alta que tudo e todos atingiram, em manter a qual estão todos conluiados, podia Luís de Camões ser o autor de tão grande obra e não ser simultaneamente baronete da heráldica luso-galaica, espada irresistível, Tenório de senhoras de alto dom? Não fazia sentido no tabuleiro do jogo, obrigado às leis da euritmia.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)