domingo, janeiro 10, 2021

na estante definitiva

 1. Henrique Abranches (Lisboa, 1931 - África do Sul, 2004) foi um dos muitos portugueses que, indo crianças para Angola, cresceram assistindo à indignidade do colonialismo. É sempre um ultraje quando uma minoria, ainda para mais alienígena, se impõe pela força, subjuga, suga e domina os naturais de outro(s) país(es). Foi o seu caso, tornado angolano de armas na mão. O contributo que deu para a história, etnografia e literatura de Angola é vasto. Foi também um pioneiro da BD angolana. O desenho da capa é de sua autoria.

Este livrinho, Diálogo, publicado pela Casa dos Estudantes do Império - importante alfobre de intelectuais e políticos dos hoje PALOP's  -- é uma obra de dois países. Abranches português pelo nascimento, e como português o publicou em 1962, com o jovem autor a cumprir pena de residência fixa na cidade natal. Há verdura, mas também admirável empatia; ele escreve não sobre angolanos, mas como angolano. Tem um óbvio lugar na minha lista de livros que importam. comovem e me dão prazer.

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2. «Diálogo no tempo morto», o texto inaugural, é uma conversa meditativa a propósito da terra devastada em a seca ransfin« a seca mata o tempo, traz a fome, leva os novos, anuncia a morte, priva dos prazeres mais elementares, uma cerveja fresca, uma boa cachimbada; só o sentimento de impotência é abundante: «Olha o céu de hoje, olha-o: sem uma nuvenzinha, como que envelhecido. Ele já não é capaz de fazer nada. Tudo o que é velho e incapaz é um fardo pesado. Nós somos velhos...»

Henrique Abranches, Diálogo (1962), leitura em curso

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