«Rubicundo, pesadão de farto, o estômago bem lastrado com lombo de vinha-de-alhos, padre Jesuíno saiu a espairecer para a varanda que a aragem da serra brandamente refrescava. Manjericos e craveiros floriam dentro de velhos potes, e tão abertos, tão medrados, que do mainel transbordava para a casa e sobre o pátio uma onda álacre de primavera. Tarde de infinita benignidade -- era nas vésperas de Nossa Senhora de Maio, quando ela, de andor ao céu aberto avista tudo verde em redondo -- ali apetecia gozá-la com cristianíssimo ripanço ao passo moroso da digestão. Mas não tardou que argoladas fortes soassem à porta e Jesuíno, em tamancos, as calças presas no abdómen por um negalho, camisa de estopa deixando espreitar pelos bofes a pelúcia de cerdo à mistura com o alcobaça vermelho, cigarro nos beiços, toda a sua pachorra eclasiástica mais rabugenta que cão dormido, foi ver.»
Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926)
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