Antes de mais, não tenho nada contra o 25 de Novembro, e até podia. Tinha onze anos, e no dia seguinte, em 1975, a minha Mãe iria completar os seus 39. Estragaram-nos um bocado a festa, com a família a ter de sair mais cedo, por causa do recolher obrigatório. Lembro-me bem...
Também não tenho nada contra, por muitíssimas razões que não vou explanar aqui, mas apenas dizer que António Ramalho Eanes é o estadista português que mais admiro no pós-25 de Abril. De resto, na condição de simpatizante, andei a espalhar folhetos do PRD pelas caixas de correio do Estoril, nos idos de 1985.
Compreendo que ele compareça à sessão solene que evoca a data da qual ele foi o principal militar operacional -- afinal não ir seria renegar-se; mas também compreendo que os elementos ainda vivos do Grupo dos Nove não queiram lá pôr os pés.
O que acontece é que as forças políticas que querem alegadamente comemorar o 25 de Novembro, na sua maioria detestam o 25 de Abril. São os derrotados do Estado Novo e a sua data de referência é o 28 de Maio de 1926. Isto vai de boa parte do PSD e do seu eleitorado, ao CDS e ao Chega. Calculo que seja diferente com a IL: sendo liberais não podem ser nostálgicos do Portugal da pobreza, do analfabetismo, da mortalidade infantil, da emigração para os bairros de lata dos arredores de Paris, da Guerra Colonial, já para não falar da pide, da legião portuguesa, da Censura. É isto que boa parte da direita portuguesa gostaria de facto comemorar; mas como não pode, agarra-se ao 25 de Novembro, que aceito ter sido um golpe contra-revolucionário, graças a deus. Basta pensar que boa parte dos patetas-palhaços da revolução tinham como referência o Enver Hoxha, o Mao Tsé-Tung e o José Estaline.
Foda-se, mal por mal dêem-me a puta da sociedade burguesa.
Ainda outra coisa: lembro-me bem de que nos comícios da AD de 1980, onde estavam muitos dos que hoje expelem jaculatórias de homenagem ao General, uma das palavras de ordem era "Eanes para a Sibéria". A direita portuguesa não só é a mais estúpida da Europa, diz-se; continua a ser uma badalhoca.
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