«I. Entre o azul do céu e o verde do mar o navio ruma o verde-amarelo pátrio. Três horas da tarde. Ar parado. Calor. No tombadilho, entre franceses, ingleses, argentinos e ianques está todo o Brasil (Evoé, Carnaval!)» Jorge Amado, O País do Carnaval (1931)
«Tempos depois, já mais crescidito, débil mancha de buço precoce, anunciadora da virilidade futura, encontrar-me-ia a enterrar coroas de espinhos na cabeça dos cães vadios que vinham esperar as crianças à saída do liceu. Inadvertidamente, apliquei esse mau trato à cadela de um professor de latim, bicha de raça, estimada, e fui denunciado, repreendido pelo reitor, castigado em casa, proibido de brincar durante um mês com o comboio eléctrico.» António Victorino de Almeida, Coca-Cola Killer (1981)
«É o fumo desses fogos que vejo espalhar-se na planície, ao sabor do vento fresco e forte. / Também a fogueira que me protege contra o frio se verga ao ímpeto do vento, mas quando olho em frente posso distinguir, no interior do templo, cuja porta está aberta, a chama sagrada ardendo erecta e impassível, sem que um sopro a perturbe. Mais perto de mim, ao ar livre, as flores que cobrem a ara dos sacrifícios são varridas para o chão.» João Aguiar, A Voz dos Deuses (1984)
1 comentário:
«0 progresso é uma voragem!
A liteira já se debate nas fauces do monstro. Vai cair a fatal hora! Daqui a pouco, a liteira desaparecerá da face da Europa.
O derradeiro refúgio da anciã era Portugal. Nem aqui a deixaram neste museu de antiqualhas! Nem aqui! A pobrezinha, a decrépita coberta do pó e suor de sete séculos, tirita estarrecida de pavor, escutando o hórrido fremir do "waggon", que bate as crepitantes asas de infernal hipogrifo.»
Camilo Castelo Branco, "Vinte Horas de Liteira" (1861)
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