terça-feira, abril 09, 2024

Eugénio Lisboa (1930-2024)

Estive com ele há poucas semanas. Devo-lhe a generosidade de me prefaciar um livro; devo-lhe mais: o exemplo da liberdade de pensar.

Eugénio Lisboa é um ensaísta arguto, culto e informado, e sendo uma autoridade em José Régio e na presença, foi muito mais que isso: alguém que se deixava encantar pelo talento verdadeiro, e pouco atreito a fazer fretes.

Foi também um temível polemista. Temível, porque tinha uma cultura vasta que lhe servia um espírito crítico acerado; e não tinha medo, não andava aqui para agradar, como sucede com tanto patife e tanto invertebrado.

A sua obra de ensaísta claramente ficará -- para os happy few, expressão que gostava de usar. Tenho especial estima por O Objecto Celebrado (Coimbra, Imprensa da Universidade, 1999), talvez por ser o primeiro que me ofereceu, já eu o admirava há muito. Mas não podemos esquecer o poeta, com grandes momentos, em especial no início, o memorialista e o diarista.

Tenho, há anos, preparada uma antologia de poemas dedicados a Ferreira de Castro, por poetas de várias gerações, começando em João de Barros (1881-1960). No ano passado, num Encontro Castrianos/Regianos, em Vila do Conde, Eugénio Lisboa não pôde estar presente, mas enviou duas óptimas composições, uma sobre José Régio, a outra sobre Ferreira de Castro.

No nosso último encontro, ao fim da manhã de 16 de Março, em S. Pedro do Estoril, dei-lhe nota de que pretendia incluir esse poema na minha antologia, enviando-a depois por mail. A sua resposta, na nossa derradeira conversa, reproduzo-a aqui:

"Caríssimo Ricardo, recebi, li e agradeço a antologia. Tem poemas belos e, toda ela, merece ser retida, até porque reflecte bem a marca de afecto que a obra do escritor suscitou. Para muitos leitores FC ficou como escritor e eterno Amigo. Não é para todos!

Forte abraço do / E.".


Um grande e grato abraço, Eugénio Lisboa!

2 comentários:

Cristiana Oliveira disse...

Triste perda e bonita homenagem.

R. disse...

Não sei se o conheceu. Era uma pessoa encantadora, de um espírito crítico sempre construtivo.