«Naquele tempo o rio ia muito vazio; pedaços de areia reluziam em seco; e a água baixa arrastava-se com um marulho brando, toda enrugada do roçar dos seixos.» O Crime do Padre Amaro (1875/1880)
«Num camarote, vestida de cor lilás, com o cabelo enchumaçado em capacete, estava a viscondessa dos Rosários, branca e gorda, cuja virtude escandalizava Lisboa, a ponto de se gritar dela com impaciência e cólera: que estúpida, que estúpida, Santo Deus!» A Tragédia da Rua das Flores (1877-78/1980)
«Procurava a rima já interessado, quando um sujeito baixote e bochechudo, de bonezinho escocês, apareceu à grade da estação, com uma chapeleira de papelão azul, a galhofar com duas raparigas que o seguiam, oferecendo-lhe ovos moles ou mexilhões, para ele levar para Lisboa.» A Capital! (1875-76/1925)
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«Mortifiquei-me a procurar Camões, o verdadeiro. A maior dificuldade esteve, de princípio, em remover o entulho debaixo do qual jazia sepultado. Até me arrojar, em seguida, a demolir os túmulos grandiosos, mas de todo bizantinos, das biografias, romanceadas com o propósito cândido de engrandecer o homem, supondo que melhor exalçavam o poeta, foi um drama. Ao fim de tudo, a minha convicção é que o Camões real, esse que viveu, amou, penou, está tão longe do Camões fabuloso como o ovo dum espeto.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões-Fabuloso*Verdadeiro. "Introdução". Ensaio (1950)
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