domingo, setembro 25, 2022

desenhar a morte

Jacques Tardi (n. 1946) é um dos mestres da banda desenhada europeia, um estilo único; mais do que herdeiro da linha clara de Hergé e Jacobs, foi alguém que a transfigurou, tornando-a marca pessoal imediatamente reconhecível. Neto de um soldado das trincheiras, a Grande Guerra é um tema obsidiante neste autor, que, logo no verso do frontispício, avisa-nos ao que vem: «Tenho a impressão de que não podemos fugir à guerra. Mesmo nós, mesmo hoje. / A guerra que mostro não é mais que o décor de 14-18, os uniformes. / Acho que continua actual, o que me inquieta.» Neste álbum, com argumento do romancista Didier Daeninckx (n. 1949), a insanidade da carnificina do conflito mundial de 1914-18 aparece carregada na sua crueza pela utilização magistral do preto e branco, com terra e carne humana retalhadas pelos projécteis arremessados por todas as bocas de fogo, abrindo crateras no lamaçal da Flandres. Duas vinhetas por página são quanto basta para a respiração do texto de Daeninckx: «Uma tonelada de pólvora da casa Krupp destruiu tudo: os mortos, o pelotão, a pocilga onde nos tinham fechado.» A trama, sendo simples, é rica, explorando os quiproquós em que a comédia humana é fértil, aqui exponenciados pelos desencontros da guerra, à rectaguarda: o hospital de campanha, o bordel, os desertores com destino marcado.

Varlot Soldado (1999)

Argumento: Didier Daeninckx

Desenhos: Jacques Tardi

(EdiçõesPolvo, 2001)

(2019)





2 comentários:

Mr. Vertigo disse...

Não conhecia e vou procurar :-)
Abraço!

R. disse...

Bem merece, aliás como todo o Tardi
Outro!