terça-feira, abril 26, 2022

"guerra injustificada" -- uma treta para enganar os crédulos (ucranianas LXXV)

1. Ontem, uma especialista em relações internacionais abertamente alinhada com a Nato, Diana Soller, disse que uma das razões por que o corte da importação de gás, petróleo, etc. era inoportuno se prendia com a necessidade de ter as opiniões públicas do lado ocidental.

2. Que as opiniões públicas têm sido sujeitas a uma carga nunca vista de propaganda, da mais primária à mais insidiosa, para todos os públicos, é notório -- um case study para toda essa fauna da comunicação e marketing políticos. 

3. Pressinto, cada vez mais, que a torrente está a chegar ao ponto de saturação. Por muito que os porta-vozes oficiosos da Nato venham ao comentário aldrabar, e por mais que os primatas que fazem de pivôs nos telejornais papagueiem o fraseado cozinhado pela propaganda de guerra americana, com a cumplicidade parvovirótica do trio grotesco que nos coube em sorte à frente da UE -- pressinto que o cidadão comum mais atento, e que não gosta de sentir-se usado, comece a achar esquisitas algumas coisas, como por exemplo:

3.1. A fortuna incomensurável (quaquilhões, em americano) que os Estados Unidos, sempre generosos e solidários, despenderam já em defesa da democracy... A intervenção do Lloyd Austin, após o encontro-farsa em que ele e o Blinken, foram dar um pouco mais de tónus à cúpula cúmplice ucraniana nem conseguiu disfarçar (o quê?...), ao falar da "nossa" (deles) acção de resposta. É hilariante vê-lo a meter os pés pelas mãos e o risinho filho-da-puta (ver aqui o segundo vídeo). Como digo desde antes do início da guerra, trata.se de um conflito entre a Rússia e os Estados Unidos, em que a Ucrânia é campo de batalha e os ucranianos carne para canhão. Qualquer historiador, estrategista ou especialista em relações internacionais que não parta daqui, ou é estúpido ou então, aldrabão. E os líderes europeus, cúmplices, em maior ou menor grau, à excepção do Boris Johnson, um saguim amestrado dos americanos, como antes já havia sido aquele ignóbil Tony Blair.

3.2. Estou também convencido que muitos cidadãos de boa-fé já torcem o nariz a episódios como o das crianças e famílias encerrados nos estaleiros de Mariupol. Que estão a ser usados pelos nazis que lá estão entrincheirados, só não vê quem não quer. Mas se estas crianças e mulheres perfidamente utilizadas vierem a ser uma das muitas vítimas desta guerra que a Rússia foi forçada a levar a cabo (vai a negrito, que é para se ver melhor), não venham chorar-se. São enganados e aparentemente não se importam.

ucranianas


11 comentários:

R. disse...

Depois das ordens de hoje em Ramstein, não vê quem não quer.

JdB disse...

Tenho seguido a sua rubrica "ucranianas". Várias vezes estive tentado a comentar, fui sendo coibido por falta de convicção e de tempo; ou talvez fosse a prudência a dizer-me para estar sossegado. Não vou rebater os seus argumentos, até porque não tenho sapiência suficiente para tanto. Não obstante, aqui vão algumas ideias:

1) Os EUA são flor que se cheire? Não, não são. Têm culpas no cartório na cena internacional, mas também foram eles que salvaram a Europa - ou um certo mundo - na II Guerra Mundial. Até quando é que podemos falar de passado dos países?
2) A invasão / intervenção militar da Rússia na Ucrânia foi condenada pela generalidade dos países que podem ou devem ser referência em termos de direitos humanos. Eu sei que quando todos pensam da mesma maneira não pensam grande coisa, mas isto deve dizer-nos alguma coisa, ou não? O facto de haver países que vão querer aderir à NATO deve dizer-nos também alguma coisa? São apenas fretes que fazem aos EUA?
3) Até onde sei, a NATO é uma organização defensiva; penso que nunca se envolveu na invasão de nenhum país. Se a Ucrânia quiser pertencer à NATO deve ser impedida disso? Em nome de que argumento? De um suposto equilíbrio geopolítico? De um incómodo que provoca à Rússia?
4) Como disse Guterres, há um facto indesmentível: há tropas russas na Ucrânia, a inversa não é verdadeira.Deve isto dizer-nos alguma coisa? Há notícias de uma grande franja da população ucraniana ser pro-Rússia? O que é que os ucranianos querem, na verdade? Se tiverem / puderem escolher, qual dos contendores (EUA e Rússia, no seu entendimento) querem eles?
5) Relativamente aos episódios de guerra, vou contar que haja investigação independente credível para se perceber o que não verdade se passou. Se tenho dúvidas das atrocidades das tropas russas? Poucas.
6) conseguimos identificar um grande movimento pró-invasão/intervenção dentro da Rússia? Isto é, há uma "legitimidade" interna assinalável?
7) Não tenho grande consideração pelos EUA. Porém, pondo nos pratos da balança todos os defeitos dos americanos e todas as qualidades dos russos, mesmo assim sei para onde pende o meu fiel.

Peço desculpa pela extensão do comentário. Obrigado,

R. disse...

Agradeço muito o seu comentário, a que responderei com toda a simpatia e o maior gosto, lá mais para a noite.
Saudações cordiais.

R. disse...

Caro JdB, agradeço a atenção e o comentário. Vou tentar responder sucintamente, e gostaria de não me repetir muito, o que é difícil, pois há dois meses que não penso noutra coisa, por suplo interesse -- este assuntos sempre me interessaram, e depois nunca como agora tive tantpo receio que a situação degenere. E há ainda a minha convicção profunda de que esta guerra é preparada e incentivada pelos Estados Unidos, o que, quanto a mim, é cada vez mais notório.
Indo directamente às suas questões:

1) 19 anos, o tempo que medeia entre a segunda intervenção no Iraque -- o acto político e bélico mais ignominioso a que assisti na minha vida -- e hoje, não é assim tanto tempo. A quse totalidade dos responsáveis (para mim, criminosos) estão aí. O próprio Biden pertenceu à ala do democratas que defendeu essa intervenção. Já tinha exemplos da História -- o Irão do Sadeg Mossadegh, pura cupidez com os pós de Guerra Fria, o Chile do Allende, até aos curdos deixados à sua sorte, depois de terem sido úteis para lutar contra o daesh.
A Segunda Guerra do Iraque foi para mim uma linha inultrapassável; a partir daí o padrão dominante de poder-ganância-pilhagem passou a vigorar. E é assim que vejo oq ues se está a passar.

Tenho de interromper agora, mas voltarei para o resto.

R. disse...

Continuando:
2) Os Estados Unidos, país com aspectos admiráveis, não são para mim uma especial referência quanto a direitos humanos. Reconheço a superioridade histórica em matéria de liberdades individuais, embora durante tempo de mais restringidas aos wasp; como acho admirável a aforma como conseguem harmonizar as diversas confissões religiosas, desde o início. Tinham aliás o péssimo exemplo da Europa.
O que tipifica esta guerra para mim, e assim o defendo desde o início é de uma guerra entre impérios, o americano e o russo. Se um é mais Atenas e outro Esparta, isso acaba por ser irrelevante para quem está na respectiva área de influência e de disputa.
Quanto a uma anunciada possibilidade de adesão da Finlândia à Nato, não me deixa de espantar que um país que obteve a sua segurança e neutralidade durante a vigência do chamado "Império do Mal" se veja agora impelida a fazer o que durante dinquenta anos não achou necessário. Ora a Rússia de Putin não é a URSS, no poderio ou nas malfeitorias. Mas é um império, com mentalidade de cerco. Se os adversários (ou os vizinhos) acham que não devem ter isso em conta, é um problema sério com que terão de lidar.
(continua)

R. disse...

3) A Nato foi o travão posto ao avanço soviético, e durante a Guerra Fria teve toda a razão de ser, ainda que os Estados Unidos não fossem flores que pudessem ser cheiradas. Depois da Guerra Fria perderam o objecto, até que a Rússia foi designada inimiga. Tenho falado das acções de desestabilização dos vizinhos e da manifesta hostilidade com que a Rússia tem sido tratada. O último gritante foi a história das vacinas (parece até que a encenação burlesca da mesa de seis metros do Putin terá que ver com isso, uma espécie de retaliação). Não acha estranho que a OMS recomende as vacinas russas e a EMA não o faça.
Quanto à não-intervenção da Nato, tal deixou de ser um facto com a acção e o desmantelamento da Iugoslávia (também por culpa dos próprios, diga-se) e a criação de situações irresolúveis como a da Bósnia-Herzegovina, um país que nunca existiu nem tinha anseios independentistas, de cujos problemas tão cedo não nos livraremos, como dessa excrescência chamada Kosovo, que nem sequer é capaz de governar todo o territótio, uma vez que o no norte está o berço da nação sérvia, de que estes nunca abdicarão, ou fa-lo-ao de forma táctica e sempre provisória.

A verdade é que não vale a pena sermos ingénuos. Onde está um império, os vizinhos não o podem ignorar. isto serve para Rússia, os Estados Unidos e a China, que tem a desfaçatez de falar na integridade das fronteiras, quando ocupa o Tibete, cujo chefe do estado, este Dalai Lama, foi por eles deposto. Se um país vizinho como é o caso da Ucrânia,. decide empreender hostilidade para com o seu vizinho imperial. das duas uma: ou se sente forte para tal, ou está a fazer o jogo de uma potência rival. É o que se passa com a Ucrânia. É por essa razão, que, pelo menos até agora, sempre tive a opinião que Portugal deveria fazer parte da Nato. A vizinhança atlântica a isso nos aconselhava.
De qualquer modo, pensar que os estados são todos iguais, é acertado nos princípios mas choca com, a realidade -- basta olhar para a ONU para ver que assim é.
(continua)

R. disse...

4) Eu defendo a autodeterminação de todos os povos, e como disse desde o início, não compro de modo algum aquela vigarice do Putin de dizerem que são o mesmo povo. Não são; tal como não há espanhóis, os sarauís não são marroquinos nem os tibetanos chineses. Ponto basilar. Agora -- há que ver como cada nação se quer defender. Os dirigentes finlandeses tiveram bom senso, depois de derrotarem o exército soviético em 1940; os dirigentes ucranianos, como tenho dito, foram enganados ou comprados, ou ambas as coisas, pelos americanos. Fizeram uma má escolha, e não foi por o Putin não ter avisado. Como tenho dito, não se escapa à geografia. Um pacto militar entre o México com a Rússia ou a China, já viu o que seria?
(continua)

R. disse...

5) Também escrevi sobre o assunto, e nunca pus em causa a credibilidade dos depoimentos populares, e só esses. Na guerra há sempre crimes, dos dois lados, basta pôr armas na mão das pessoas.

6) Não sou especialista na Rússia. O que julgo saber é a grande popularidade do Putin, que organizou um país que estava literalmente a saque, lidou (brutalmenmte) com o terrorismo, e, como disse muitas vezes, proporcionou aos seus concidadãos uma liberdade e uma prosperidade que nunca tiveram na sua longa história. Deitará tudo a perder agora, é possível, mas duvido, até porque duvido que com maior ou menor dificuldade a Rússia não ganhe esta guerra contra os Estados Unidos. Como ficará, depois se verá.
Pelo que tenho lido, os russos "padecem" de uma mentalidade de cerco, que vem dos mongóis, bastante marcadas no imaginário colectivo, a que se juntam, nos dois último século, Napoleão e Hitler. (O caso pessoal de Putin também é interessante, uma vez que os pais viveram o cerco de Leninegrado/Sampetersburgo.
A circunstância de a sociedade russa estar a viver uma situação de censura à imprensa, não abona em favor deles e é sempre prejudicial, também o digo desdo o princípio. No entanto, eles sabem muito melhor do que eu o que está em causa).

7) Quanto ao que diz, estou como o Mélanchon: não votem nela, mas sem apelar ao voto no outro. Eu, aqui do meu escritório, apenas consigo sizer: americanos? Patifes! Quanto ao resto...

Obrigado de novo pelas suas questões e pela atenção.

JdB disse...

Obrigado pela sua resposta. Espero que o esforço que colocou na escrita seja gratificante. Gostei de ler - aprendo sempre com quem sabe mais do que eu.

Queria só dizer-lhe isto, o comentário não carece de publicação.

R. disse...

Quis publicar, pois também é importante que a boa fé seja sempre vista.
Não tenho a verdade, como é óbvio, e estou também sempre disposto a aprender e tamb+ém a rectificar, se for preciso.
Saudações cordiais.

R. disse...

Guerra e podre e nua é uma boa definição. Dissertaria a propósito dela.