«A ambição não avança um pé sem ter o outro assente, a manha anda e desanda, e, por mais que se escute, não se lhe ouvem os passos.» Raul Brandão, Húmus (1917) «A melancolia perturbante do Ofício, os sons plangentes dos órgãos, os incensos e o cantochão, as sumptuosidades do rito nas cerimónias pontificais, todo esse inquietante atavismo das religiões actuava como ópio na imaginação do novel artista.» Manuel Ribeiro, A Catedral (1920) «Aquele espelho barato, aquela novidade sensacional e aquela fotografia lúbrica exasperavam-me, embora ao meu exaspero se misturasse um pouco dessa piedade que me inspiram as coisas pretensiosas e miseráveis.» José Régio, Jogo da Cabra Cega (1934) «Dando à cabeça, arregalando os olhos, encrespando as sobrancelhas, mostrava Feliciana o ar entupido dum curandeiro, chamado a decifrar récipe de facultativo.» Aquilino Ribeiro, Andam Faunos pelos Bosques (1926) «Um raio de sol envolvia a mão rústica e calejada que ele poisara no peitoril da janela.» Ferreira de Castro, Emigrantes (1928)
terça-feira, abril 25, 2023
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2 comentários:
… «A meia grosa de livros que escrevi foram de facto para mim, em tanto que obra de criação e exalçamento, como igual número de vinhas que plantasse. Nesta faina exaustiva tive de desatender à vida de relações, não cultivar como devia a amizade, remeter os meus à vis própria quando poderia com um pouco de arte, salamaleque, e o "quantum satis" da desvergonha cívica nacional, consagrada e triunfante, guindá-los a ministros ou banqueiros. Permiti ainda, levado na minha obsessão, que os gatunos oficiais e de mister me metessem as mãos nas algibeiras, os pirangas me ludibriassem, e toda a canzoada humana me ladrasse impunemente. Numa palavra, a vida utilitária, o arranjinho, a conveniência mundana nunca me roubaram um minuto de labor. Valeu a pena toda esta existência de sacrifício, de que ninguém se apercebeu, que ninguém me agradece, de que aliás ninguém me encomendou o sermão? Em minha consciência não sei responder.»...
Excerto da dedicatória do livro "Quando os Lobos Uivam" ao Dr. Francisco Pulido Valente, datada de Dezembro de 1958.
A grande pergunta de todos os criadores, mas cá estamos nós, leitores portugueses para responder e agradecer-lhe a obra e a escrita única.
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