segunda-feira, fevereiro 21, 2022

Putin e Biden: jogo do gato e do rato numa ratoeira chamada Ucrânia

Olaf Scholz diz que há ainda lugar para a diplomacia e Macron insiste ao telefone com Putin. Eles bem querem, mas o que querem os Estados Unidos? Cada vez mais parece que é a expulsão do sistema monetário internacional como já foi apontado por outrém; uma forma mais limpa de tentar minar a Rússia, estrangulando-a econòmicamente. Se for assim, Putin está a evitar a armadilha: se atacar caem-lhe as sanções em cima; se não atacar, será não só um revés estratégico, como dará gaz aos americanos. O Donbas ali serve para já para ir entretendo, e Putin ganhar tempo. Não sei até que ponto os acordos com a China poderão de alguma forma compensar as tais sanções económicas nunca antes vistas. Se assim for, o tempo joga contra a Rússia e a favor dos Estados Unidos. O que poderá sair deste imbróglio, ninguém sabe, nem Putin.

Zelensky, que até meio da semana passada tivera uma atitude responsável e de sangue frio, deu de repente uma guinada e passou também a saber, tal como Biden, a que horas iria começar a guerra. Mas fez pior: pediu à NATO um cronograma para a sua entrada. Como isso, nas actuais circunstâncias parece ser uma impossibilidade, está também ele a ser boneco de ventríloquo, como o sec-geral da Nato a presidente da Comissão Europeia, para não falar no Boris Johnson, um tipo que merece todo o crédito que sabemos, do Brexit às festarolas no n.º 10.

Ucranianos em Portugal manifestaram-se em frente às representações diplomáticas russas. Alguns em lágrimas. Não deveriam ter ido às congéneres americanas? Já se perguntaram do porquê de tanto afinco e precisão na defesa da democracy por parte de quem está tão longe? Eu bem sei que parte deles está ali orientado e em serviço. Basta ouvir-lhes o mantra, qualquer coisa como isto: agora é na Ucrânia, amanhã estão a mergulhar nas águas do Guincho. Vamos lá todos então entrar em guerra porque a Ucrânia (ou quem da classe dirigente toma conta) não lhe serve ser um estado neutral e tem medo da influência da Rússia nas províncias de maioria russa. Vamos todos então escaqueirar a Ucrânia, porque os seus dirigentes assim o querem. Os dirigentes, ou os que de Washington mandam neles? 

5 comentários:

sincera-mente disse...

Ó Ricardo, tiro o chapéu aos seus esforços por defender o angélico e mui cândido czar. Mas continuo a não perceber a sua leitura. Quem, diabo, é que começou esta embrulhada? Quem tem a faca e o queijo para sair dela? Quem é que anda a acicatar e alimentar os separatistas para criarem pretextos? Eu sei que o pessoal cá deste lado também não é bom de cheirar, mormente os do outro lado do Atlântico, mas desta vez não consigo atribuir-lhes a culpa. Será que deviam ficar simplesmente à espera do que desse na cabeça ao novo czar?

R. disse...

Caro,

vamos lá a ver se consigo explicar-lhe o meu putinismo, que em boa verdade é mais russismo do que putinismo, embora eu nunca me canse de dizer duas coisas: não sei se fosse russo seria apoiante dele, não conheço aquela sociedade; embora reconheça, uma vez mais, que nunca os russos foram na sua história tão livres e tão prósperos quanto o são agora.

E diga-se que nada me move contra a Ucrânia. adoro, como a Roménia ou Luxemburgo, três países onde nunca estive, e na Rússia também não, embora tenha um fraco pela grande cultura russa: os seus grandes escritores, compositores e artistas. Devo aliás dizer que dos três países que mais me fascinam na Europa, a Itália, a Inglaterra e a Rússia, só a essa ainda não fui. Tenho de colmatar isso, apesar de gostar pouco de viajar.

Ora bem, este conflito entre russos e ucranianos começa por ser inventado e instigado de fora. A Ucrânia (que nas línguas eslavas quer dizer fronteira) é por lá conhecida como a "Pequena Rússia", nome, aliás, da magnífica segunda sinfonia do Tchaikovsky. Portanto há um secular convivência e integração entre russos e ucranianos, rmbora sejam dois povos diferentes.Famílias mistas devem ser milhões

Claro que se tomarmos tudo o que nos é dado como informação pelo seu suposto valor facial, como os despachos da tarefeira enviada pela RTP, tudo parece simples: há os maus (os russos) chefiados por um novo Hitler (Putin), e os inocentes que são os ucranianos. Cklaro que nada disto é assim tão simples. Há dois impérios, o Russo e o Americano, que se disputam naquele território. Nada mais que isso: a Ucrânia é onde se entrechocam os dois imperialismos, como sucedeu na Coreia, no Vietname ou em Angola.

E já agora devolvo-lhe a admiração: não se pergunta por que razão os americanos andam por ali? Ou porque insistem (de froma retórica) que a Ucrânia deve pertencer à NATO? Por que raio? Onde está o perigo do comunismo? Não acha estranho os americanos e o escroque do Boris Johnson dizerem uma coisa e os franceses e os alemães outra, no que respeita ao papel da diplomacia por estes dias?

Se eu quisesse ironizar com coisas séria e tristes, diria que quase me vieram as lágrimas aos olhos quando o Biden se chorava pelos 3 milhões de inocentes que habitam Kiev na imninência de bombardeamentos russos. Um patife que votou favoravelmente o ataque ao Iraque, creio que o maior crime a que assisti na minha vida adulta...

Como já escrevi para aí, esta estratégia americana de estoirar com a Rússia, de torná-la inócua vem de trás. Adivinhava-se com a Clinton que ero o que iria acontecer. Como ganhou o maluco do Trump -- que, ou por o Putin tê-lo na mão, como dizem os democratas, ou, por ser muito rico, não precisar das entradas dos financiadores do complexo militar-industrial -- teve mais que fazer do que se preocupar com o Putin.

Ao contrário do que parece, este está numa situação muito difícil,e só sairá vitorioso, como dizem certos comentadeiros, se os americanos recuarem. Mas estes parecem-me estar muito decididos.

Como disse alguém, e foi vem visto, isto já não é xadez, mas póquer. Ora o Putin é bom no xadrez, mas o póquer é com o Biden.

Agora vou ver as n´tícias, talvez a situação esteja diferente entretanto.

Abraço!




R. disse...

E entretanto aconteceu...

sincera-mente disse...

É engraçado, se é que se pode usar a expressão, a variedade de prognósticos que se vão ouvindo acerca da evolução da crise. Reparou nos suspiros com que Putin foi lamentando a 'desagregação' do velho império, com a queda da URSS? 'A Ucrânia não é um país vizinho, faz parte da Rússia'.
Veremos...

R. disse...

Vi só os excertos dos telejornais. Ainda não digeri...
Os russos entraram. Os americanos decretaram sanções às duas repúblicas, o que é engraçado. Isto quererá dizer o quê?... Que é para ficar por aqui e cada um vá à sua vida? Parece-me difícil. Mas se não for assim, o que será? Um avanço pela Ucrânia adentro? Eles podem avançar, mas, segundo os especialistas não é com 150 ou 200 mil homens que se aguentam lá.
Por outro lado a reacção so Zelensky, depois de falar com o Biden, foi comedida.
Como diz, veremos. É a História a passar-nos diante dos olhos...