não pode passar despercebida uma rapariga dos seus dezoito anos mal contados, que ali adiante à esquina da botica, sentada no granito do passeio, vende chapéus de palha, que ela própria, num labor incessante continuamente fabrica.
Conde de Arnoso (1855-1911), «Um pequeno romance», para ler na íntegra aqui.
2 comentários:
Bom trabalho de arqueologia literária. Fez-me lembrar o prefácio de Eça a "Azulejos", do dito Conde de Arnoso, o amigo Bernardo que lhe trouxe de Pequim (onde fora em missão diplomática) a cabaia chinesa da conhecida foto. O prefacio é uma defesa do naturalismo e a explicação das razões por que não vingou em Portugal. Da arte do conto do amigo Bernardo diz Eça ser simples, fluida e correcta, uma «aguada límpida, que não empasta», mas que não viverá tanto como os mármores do Pártenon. E avança: «Os teus contos são flores de arte, modestas e simples: contenta-te que, como flores, eles durem uma manhã de Verão. Feliz serás!» E disse tudo, à Eça.
Ora ai está um rico comentário. E já que estamos em maré de vencidismo (o vencidismo, entre Lisboa e Cascais, reclama sempre marés) e aristocratas, como contistas prefiro o Arnoso ao Sabugosa, embora nenhum chegue aos calcanhares do Ficalho (e não Fialho...); aí só mesmo o Eça.
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