quarta-feira, fevereiro 03, 2021

a 'condessinha' -- «A Catedral» (2)


 Continuar: «D. Francisco Diogo de Pina Coutinho, 3.º marquês de Pombeiro e 5.º conde de Linhares, cujas genealogias entroncavam na mais antiga nobreza do reino, fora um dos grandes fidalgos portugueses que entraram, em 1640, na conjuração nacional contra o jugo de Castela.»  Manuel Ribeiro, A Catedral (1920) Início do cap. II, pp. 29-39 da minha edição.   


Capítulo que mostra as origens familiares de Maria Helena de Monforte, a condessinha. Os antepassados estiveram na Restauração, na Guerra da Sucessão de Espanha, contra os franceses nas Invasões, contra D. Pedro e com D. Miguel na Guerra Civil, cujo destino de expatriação partilharam. «Toda a história da sua casa era um pouco a história de Portugal.» É o pai de Maria Helena, D. Álvaro de Ataíde, que se retira de Paris, quando a República é implantada -- a primeira referência que permite situar no tempo a acção do romance. Morta a mãe, Eulália Zarco, filha dos condes de Borba, ainda jovem, deixando o pai na apatia, embora estremecendo a filha criança, esta será educada pelo capelão da casa materna, Monsenhor Santana, um tradicionalista, e por uma tia freira, madre Maria Peregrina, superiora de um colégio religioso entretanto encerrado pelo governo.

Uma educação para o exercício da autoridade e sentimento de superioridade dado pela estirpe, colide com o temperamento afável e bondoso da condessinha, que, fruto também da educação é dotada de um expressivo sentimento religioso, que pratica na capela de família, situada na charola da Sé de Lisboa. 

«Ela não era inteiramente como monsenhor pretendia. Maria Helena sentia-se realmente superior, não porque fizesse pedestal de alguém, mas porque pairava em um mundo de idealidades. Sua soberania não se alimentava de humilhações. Monsenhor fora talvez ludibriado. Em vez dos graves princípios brotando das sementes dos seus conceitos, irrompia da alma da condessinha uma flora tenra, suave, como seara de linho que se estrelava de flores azuis do sonho. A história aparecia-lhe sobre refrangências de lenda e os heróis sobressaíam nimbados em fundos de religiosidade. Ser vassalo da Igreja era prestar fidelidade ao bem.»

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