segunda-feira, abril 21, 2025

um líder excepcional

Baptizado, educado na Igreja Católica, numa família que se dividia entre o ateísmo anticlerical e uma prática religiosa abaixo dos mínimos, por tradição, hábito e superstição,  português e europeu, sou um ateu impregnado de cristianismo. Aliás, como qualquer um cujo coração está à Esquerda, a figura histórica de Jesus Cristo, a sua mensagem revolucionária, pregada ainda na Antiguidade, recorde-se, de que todos os homens são filhos de Deus e iguais na dignidade, só pode merecer a adesão de todos quantos atribuem a essa mesma dignidade um valor inegociável e sem cotação em bolsa.

O papa Francisco, Jorge Bergoglio, era desses. Por isso -- com as excepções do costume -- concitou não apenas o amor e a admiração dos seus fiéis, como de todos os homens de boa-vontade, qualquer que fosse a sua religião, ou não professassem credo algum, como é o meu caso.

Além disso, o seu humanismo e bom-senso, uma voz  que se elevava sobre os guinchos das hienas da indústria bélica e os seus criados, na União Europeia e alhures, e sobre a indiferença que estes mesmos servos da UE já demonstraram ter diante do genocídio -- creio que só agora assumo esta palavra, e já vou muito atrasado -- dos palestinos e a condescendência para com os criminosos de guerra do governo de Tel-Aviv. 

Como esquecer a ida a Lampedusa, no início do pontificado?; as palavras contundentes e cheias de indignação contra a "economia que mata"?; os latidos da Nato à porta da Rússia?; a vergonha excruciante de chefiar uma instituição religiosa com um histórico encobrimento de abusos sexuais generalizados que tornam uma parte da igreja num coio de crime e abjecção? A luta entre bem e mal trava-se também lá dentro. Francisco era do Bem, e só este é admissível.

Vai fazer imensa falta, e espero, que o próximo possa estar à altura do grande Francisco. Afinal, um papa continua a ser um líder político mundial e uma das consciências da humanidade.

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

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"Frase do Dia"
«Apelo a todos os que, no mundo, têm responsabilidades políticas para que não cedam à lógica do medo que fecha, mas usem os recursos disponíveis para ajudar os necessitados, combater a fome e promover iniciativas que favoreçam o desenvolvimento. Estas são as “armas” da paz: aquelas que constroem o futuro, em vez de espalhar morte!»
Papa Francisco, na Urbi et Orbi da Páscoa
20 de Abril de 2025