sexta-feira, fevereiro 12, 2021

a arte de começar mais depressa

«A aliança inglesa». «A sua vaidade de mulher bonita lisonjeava-se com a convicção de ter fixado o coração volúvel e a imaginação impressionável do noivo; a consciência da própria superioridade dava-lhe a certeza de ter definitivamente tomado posse do espírito do marido, fortaleza tantas vezes atacada, e outras tantas espontaneamente rendida, nas batalhas alegres de uma mocidade jovial.» [Sabugosa]

«Um pequeno romance». «A quem logo de manhã cedo em Vizela vai para o banho, não pode passar despercebida uma rapariga dos seus dezoito anos mal contados, que ali adiante à esquina da botica, sentada no granito do passeio, vende chapéus de palha, que ela própria, num labor incessante continuamente fabrica.» [Arnoso]

«A Cabrita». «Ao ver os seus grandes olhos negros, sublinhados pelo esmalte suavemente esbatido das olheiras, a boca de beiços palpitantes, finos e sensuais, a pureza extraordinária dos contornos do seu corpo, fácil seria adivinhar que Maria, por alcunha -- a Cabrita -- não era irmã de Manuel Torrão, nem filha da Sr.ª Engrácia, rendeira do casal do Arneiro, situado à borda da estrada que conduz de Sintra a Mafra.» [Sabugosa]

«A viagem». «Uma noite, em Kobe, em lugar de ir percorrer os bairros pitorescos da cidade, deixei-me ficar na banal casa de jantar do Hôtel des Colonies, comodamente sentado à beira do lume, conversando com uma senhora inglesa, viúva e já idosa, que sozinha viera da Austrália passar os meses de inverno ao Japão.»  [Arnoso]

«Balões». «Uma aragem tão leve como sopro de criança, balouçava docemente acima da multidão, que saía do missa do Loreto, um cacho de balões de cautchouc duma transparência suave, e a que o plenissol daquela manhã de Abril, dava o aspecto dos maravilhosos frutos de Aladim.» [Sabugosa] 

«No mar». «Noite escura.» [Arnoso]

«O filho do maioral». «A poucas léguas de Lisboa, na margem direita do Tejo, e não muito longe de uma das estações do caminho-de-ferro, estendem-se as vastas propriedades do marquês de ***, possuidor de um nome antigo e de uma fortuna avultada, que tem atravessado com rara felicidade o temporal desfeito que arrastou para sempre a maior parte das suas iguais.» [Sabugosa]

«Inconfidência». «Trouxe-nos hoje o correio novas do extremo oriente.» [Arnoso]

«O fadista». «Também se transformou!» [Sabugosa]

«Mater Dolorosa». «Aquela filha, filha única, era a menina dos seus olhos.» [Arnoso]

«A nora -- o moinho». «Saindo das portas de Lisboa e tomando por algumas azinhagas que do Campo Grande levam à estrada de Sacavém, ou visitando as hortas que se espalham pelo vale de Chelas, não é raro ainda ouvir pelas compridas tardes de verão o gemer arrastado, a melancólica e plangente cantilena das noras.» [Sabugosa]

«Um sonho». «Vi-me num bosque sentado sobre uma pedra que o musgo viçoso amaciava.» [Arnoso]

«Na goela do leão». «Quando o leão de púrpura dos Silvas perder a sua língua negra acabará a família a que vai pertencer, profetizara o Roque a uma das suas netas, na véspera do casamento, por uma noite de luar coado a custo pelas abóbodas do espesso arvoredo numa das avenidas da quinta de Belas.» [Sabugosa]

Conde de Sabugosa (1851-1923) e B. de Pindela [Conde de Arnoso, 1855-1911], De Braço Dado (1894)

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