domingo, fevereiro 28, 2021

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Castidade: «Afinal o caso era banal, simples e puro como castidade de santo.» Ruben A., «Sonho de Imaginação», Páginas I (1949).   Comentário: Não há nada menos banal e complicado do que a castidade de um santo. A pureza é sempre dos que conheceram a sujidade.


Do eterno:
«O moderno é de sempre, o moderno é o eterno.» Fernando Lopes-Graça, Introdução à Música Moderna (1942). Comentário: O agora nunca vem com prazo de validade.


Matéria: «Exagerado em matéria de ironia e em / matéria de matéria moderado» Cacaso, apud Heloisa Buarque de Hollanda, 26 Poetas Hoje (1974). Comentário: o antidogmatismo, explicado com inteligência.


Misérias (1): «Sempre existiu esta tendência da arte para desculpar um certo tipo de pessoas imorais ou facínoras. É uma das misérias da arte, cobertas por uma auréola de glória.» Gregorio Marañon prefácio ao Lazarilho de Tormes,  (trad. Ricardo Alberty) Comentário: Sobre a novela picaresca e a glorificação de patifórios, em especial o Lazarilho, que considera magistral. Donde se conclui que a arte não se compadece com bons sentimentos.


Misérias (2): «a credibilidade da historiografia portuguesa dos Descobrimentos nunca foi grande» Luís de Albuquerque, Dúvidas e Certezas na História dos Descobrimentos Portugueses (1990). Comentário: Matemático de formação, é herdeiro, de certa forma do positivismo de Herculano; muito útil para desmontar as patranhas em que somos useiros e vezeiros. No entanto, falta-lhe o golpe de asa de um Cortesão, Jaime, com a sua doutrina do sigilo. Mas prefiro um positivista a um patranhioteiro.




Progresso: «Muito tem avançado a humanidade desde aquelas remotas idades em que o homem, talhando no sílex as suas ferramentas rudimentares, vivia das eventualidades da caça e apenas deixava como herança aos seus sucessores um buraco nos rochedos, alguns grosseiros utensílios de pedra -- e a Natureza imensa, incompreendida, com que tinha de lutar para manter uma existência miserável.» Piotr Kropótkin, A Conquista do Pão (1910, tradução de Manuel Ribeiro) Comentário: O ponto de vista que legitima o optimismo. Como racionalista, preciso de agarrar-me a ele.


Timidez. «A juventude que então arvorávamos não convencia ninguém e uma timidez desprotegida impedia-nos todos os passos em direcção aos empresários.» Ferreira de Castro, do «Pórtico» de A Curva da Estrada (1950). Comentário: Castro reporta-se ao início dos vinte anos, e de como a frustração de mil e uma dificuldades -- entre as quais a de uma timidez desprotegida (estava só e era novo na cidade) fazendo com que abandonasse a escrita de teatro, que ensaiava desde os tempos do Brasil. Ganhou-se, pelo menos, um romancista. 



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