"De manhã, largaram dali com levante. Viu-se de novo enrolada no beliche, com a cabeça entre os joelhos, e quis Deus que, ao quinto dia dessa primeira e última morte no mar, viesse finalmente alguém dizer-lhe que a luminosa, magnífica cidade de Lisboa esperava os náufragos e as suas almas mortas. Só então conseguiu ressuscitar."
João de Melo, Gente Feliz com Lágrimas (1988)
4 comentários:
"Não compreendera ainda como o tinha eu salvo da crucificação. Mas quando os seus braços musculados se abriram para o meu corpo delgado, senti que o peito se lhe tornara discretamente ofegante, ao reconciliar-se com o meu. E, estando eu morto, ressuscitei. E, pedindo-me ele de novo que comesse, agarrei na tigela com as mãos muito trémulas e pus-me a sorver, em apressados e sôfregos tragos, aquele delicioso caldinho de farinha, com cujo sabor se cruzou para sempre a memória doce da minha infância. E os olhos dele, rasando-se de lágrimas, eram afinal olhos felizes com lágrimas - assim você me perdoe o facto de a minha história comportar também episódios felizes..."
notável, notável...
Se houvesse aquela coisa da ilha deserta, da tralha que se levava e por aí em diante, este era um dos livros que garantidamente levaria. Marcou-me.
É um grande romance, e a escrita de João de Melo dá um enorme prazer ao leitor.
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