«Durante muito tempo, Soriano havia menosprezado os clássicos. Do seu forçado convívio com eles nos bancos escolares ficara-lhe uma sensação de mundo velho, monótono, que servia apenas para enfastiar a vida da mocidade. Ao próprio "Dom Quixote" ele se lançava, desdenhoso: "Era um matorral espesso, onde andavam dois animais que não valia a pena seguir, porque um era louco e o outro era bruto." Por causa desta frase, que, nesse tempo já longínquo, ele sentia volúpia em repetir, tivera até um pugilato com outro estudante, um navarro carlista, muito reaccionário, que lhe tinha respondido com uma expressão de desafio: "Animal és tu e, se a natureza for justa, ainda hei-de ver-te com quatro patas."»
Ferreira de Castro, A Curva da Estrada (1950)
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