Não vi, nem me interessa ver, a entrevista de Boaventura Sousa Santos dada há dias na televisão; tenho lido nos jornais os ecos. Por vezes até concordo com alguns dos seus pontos de vista, mas trata-se de um guru, susceptível de adoração e adulação (e agora de execração) o que me provoca sempre urticária. Depois, é um inoculador do vírus woke aqui na parvónia. O que lhe tem acontecido -- acusações de assédio sexual, aproveitando-se do poder que detinha -- é simplesmente grotesco. E das duas, uma: ou o homem é um reles charlatão, que faz o contrário do que apregoa, ou é vítima de uma cabala e lavagens cerebrais em que ele era o sumo-sacerdote da seita. Não estou grandemente interessado no assunto.
Anteontem no Diário de Notícias, surgiram relatos de alegadas vítimas suas e do antropólogo Bruno Sena Martins. Se ambos forem inocentes, nada poderá reparar o dano. Mas não é a propósito disso que quero escrever, mas sobre o veneno inculcado por esta espécie de sacerdotisos. A certo passo, uma das eventuais vítimas referia-se aos seminários de Verão na Curia como (cito de memória) sessões de descolonização das mentes e da luta contra o fascismo, o capitalismo e o patriarcado. Não é de rir? Como se perde tempo e gasta dinheiro público com parvoíces. E depois queixam-se do Trump...
Também é particularmente cómico que Sena Martins, tendo revelado a prática de um ménage à trois consensual -- parabéns para ele --, seja citado num questionário de Proust do Público, segundo o qual, a qualidade que mais aprecia no homem e na mulher, seja (de memória, outra vez) qualquer coisa como o desprezo profundo por manifestações de masculinidade, ou coisa que o valha. Poderia ter falado em marialvismo, que é a masculinidade de grunho.
Nem de propósito, no DN de ontem, aproveitando o balança da tal série que anda nas bocas do mundo, "Adolescência", creio -- que tem que ver com patologias psíquicas e sociais -- surge com este título, entre aspas: "'A masculinidade mata os homens'", com perorações no interior de vários júliosmachadosvazes, assim, sem sequer direito ao adjectivo substantivado "tóxico".
Mais: apresenta-se o crime de violação como prática de masculinidade. Fiquei sem saber, pois, que raio é isso de masculinidade, mas sei que desvios sexuais como violação, pedofilia, entre outros, são manifestações doentias e patológicas da personalidade por via sexo, que merecem tratamento psiquiátrico e eventualmente internamento compulsivo. O que raio tem isso que ver com 'masculinidade'?
Mas nada desta terminologia é para levar a sério. Não passa de charlatanismo pseudo-científico de que se nutre uma boa parte das chamadas "ciências sociais", lixo académico, portanto, que não serve para nada, a não ser aos maluquinhos da ideologia de género -- o que quer que isso possa ser e a quem possa interessar que não sejam as criaturas que se chateiam que possa haver muita e boa relação homem-mulher a vários níveis, não tendo ele que ser um pé-de-salsa ou ela um estafermo. E normalmente chateiam-se porque não gostam de si próprias. A psicanálise costuma ser útil.
Talvez seja altura de dizer várias coisas -- ou até de repeti-las, como, por exemplo, que qualquer homem decente é feminista, qualquer homem que ama, gosta, aprecia mulheres, por tudo o que são e representam, qualquer homem que deseje uma mulher, é, tem de ser feminista -- se não for um traste --, e é claro que há muito traste por aí, aliás de ambos o s sexos; e é verdade que vimos de uma sociedade asquerosamente machista, e nela fomos educados. No entanto, lutar pela justiça, direitos humanos e igualdade na complementaridade entre homens e mulheres não é incompatível com a virilidade do homem e muito menos com a mais do que desejável feminilidade da mulher, para não falar da necessidade do próprio feminismo. Mas isso ficará para outra ocasião.