«Embora de teimoso castanho, abanados por entalões de carretos, chicoteados e entranhados por chuvas de invernos, os batentes do portão, lassos da corrosão das cunhas cinco dos seis chumbadouros, havia muito que não jogavam nos gonzos. Franqueados como abraços, o areão e o saibro dos enxurros caldeavam-nos à terra como se houvessem botado raízes, reverdecidos.» Tomaz de Figueiredo, A Toca do Lobo (1947)
«Era nos extremos do Minho e onde esta risonha e feracíssima província começa já a ressentir-se, senão ainda nos vales e planuras, nos visos dos outeiros pelo menos, de sua irmã, a alpestre e severa Trás-os-Montes. / O sítio naquele ponto, tinha o aspecto solitário, melancólico e, nessa tarde, quase sinistro. Dali a qualquer povoação importante, e com nome em carta corográfica, estendiam-se milhas de poucos transitáveis caminhos.» Júlio Dinis, A Morgadinha dos Canaviais (1868)
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«Os biógrafos modernos, ao quererem dar o painel mais completo possível da sua vida, procederam por acervação como os farrapeiros -- toca a encher o saco -- e naquilo em que se recomendava destrinça, exame, ponderabilidade, fizeram-no de todo a trouxe-mouxe. As únicas fontes de informação consistiam no que fora dito por Couto, Mariz, Correia, Severim, e seguidamente Faria e Sousa. E como operaram? Não sabendo ver, por uma banda, em Luís de Camões o bardo sublime do seu tempo, que poetava para o mundo, que exercia uma profissão pública, divina em si, embora humilde nos foros que gozava; havendo-o, por outra, graduado -- em bom direito -- vulto máximo do génio nacional ou da arte literária, empenharam-se em deificá-lo.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões - Fabuloso*Verdadeiro". Ensaio (1950)
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