domingo, julho 21, 2024

O DELFIM

«Cá estou. Precisamente no mesmo quarto onde, faz hoje um ano, me instalei na minha primeira visita à aldeia e onde, com divertimento e curiosidade, fui anotando as minhas conversas com Tomás Manuel da Palma Bravo, o Engenheiro.» José Cardoso Pires, O Delfim (1968) § «Contra o seu costume, Albano viera tarde e entrara sem os cuidados tidos nas outras noites, quando queria abafar rumores; logo, porém, volvera às precauções de sempre. Era preciso que ela não desconfiasse!» Ferreira de Castro, A Tempestade (1940) § «Elói está deitado. Amanhece. Ainda não abriu os olhos, mas, embora os abrisse, nada veria; a escuridão reina dentro do quarto. Neste momento deve debater-se na impossibilidade de saber se dorme ou se está acordado. Volta, com esforço, a cabeça na almofada. Lamenta não poder ver a escuridão, porque lhe cobrem a vista novelos de claridade absurdamente negros: novelos ou passadeiras de matéria luminosa que, do que supõe o tecto, descem, pesados, para o que supõe o chão.» João Gaspar SimõesElói ou Romance numa Cabeça (1932) § «Naquela noite de Março, desabrida e húmida, uma grande animação fervilhava alacremente ao fundo da rua do Salitre. Era em 1867. Frente a frente, as Variedades e o Circo Price alinhavam os seus bicos de gás festeiros, a que as vergastadas do noroeste impunham um tremelilhar inquieto.» Abel Botelho, O Barão de Lavos (1891) § «Tinham dado onze horas no "cuco" da sala de jantar. Jorge fechou o volume de Luiz Figuier que estivera folheando devagar, estirado na velha voltaire de marroquim escuro, espreguiçou-se, bocejou e disse: / - Tu não te vais vestir, Luísa? / - Logo.» Eça de Queirós, O Primo Basílio (1878) § «Em 1815, um dos mais abastados mercadores de panos da Rua das Flores, na cidade do Porto, era o Sr. António José da Silva.» Camilo Castelo Branco, A Filha do Arcediago (1854)

1 comentário:

Manuel M Pinto disse...

«Pode concluir-se, portanto, com segurança, não ser ponto de fé que, para poder exibir uma boa cultura, tivesse Luís de Camões de frequentar a Universidade de Coimbra, no geral seminário de nobres e pupilos dos jesuítas, onde só não eram raros os filhos dos burgueses e ricos-homens das Beiras e filhos de moços da Casa Real que se destinassem à vida eclesiástica. Os morgados, ciosos da sua ignorância, e os plebeus, inibidos por sua própria condição, é que não iam para lá. A cultura começou ao desabrochar, contra a índole, por não ser democrática.»
Aquilino Ribeiro, "Luís de Camões-Fabuloso*Verdadeiro. "Introdução". Ensaio (1950)